segunda-feira, 5 de maio de 2008

Indie Lisboa: da Tailândia a Moçambique

Num festival em que brilhou o novo cinema romeno e a excentricidade de Johnnie To, a maior surpresa da 5.ª edição do Indie, a que o JL dedicou um dossier na última edição, veio do público, que atribuiu o prémio a um filme português. O feito foi conseguido por Teresa Prata, e a sua Terra Sonâmbula, que estreia em sala já no dia 8. Um filme a partir do livro homónimo de Mia Couto, filmado inteiramente em Moçambique, que também mereceu uma menção honrosa do júri Amnistia Internacional.
Escapou-lhe no entanto o prémio da Competição Nacional de Longas-Metragens. Dos cinco filmes em concurso, o júri escolheu o documentário Via de Acesso, de Natalie Mansoux, uma francesa residente em Portugal, sobre o desmantelamento do bairro ‘degradado’ da Azinhaga dos Besouros, na Amadora. Um olhar muito particular sobre a realidade, por uma realizadora que acredita no poder militante e interventivo do cinema. Para as curtas, os prémios foram muitos. O principal dos portugueses entregue a Paisagem Urbana para Rapariga e Avião, de João Figueiras. Mas destaque-se também mais um prémio para Cândido, de Zepe, uma animação que está a fazer uma excelente carreira em festivais nacionais e internacionais, e que já merecia estrear-se no cinema. E ainda Superfície, de Rui Xavier, com o prémio de Melhor Fotografia, e Outside, de Sérgio Cruz, um documentário sobre Pequim, considerado uma revelação.
Na competição internacional, o festival rumou a Oriente, salientando a qualidade do cinema asiático – aliás, não foi casual a retrospectiva de Johnnie To. Assim, o prémio principal pertence ao tailandês Aytia Assarat, com Wonderful Town, uma ficção que retrata uma sociedade pós-Tsunami. E houve uma menção honrosa para Night Train, do chinês Diao Yinan, que esteve no São Jorge a receber o certificado, discursando com a ajuda de uma tradutora, e garantindo que Lisboa ficará para sempre na sua memória. Momma’s Man, do americano Azazel Jacobs, acumulou o prémio da crítica com o importante prémio de distribuição, garante da entrada do filme no circuito comercial. Outro momento alto, da noite de 3 de Maio, foi a subida ao palco de Ditte Haarløv Johnsen, uma dinamarquesa que fala fluentemente português, autora do filme One Day, que recebeu justamente o prémio para a melhor curta-metragem: um sensível documentário centrado numa prostituta nigeriana em Copenhaga.
A organização do Indie Lisboa tem motivos para estar satisfeita. Com mais de 35 mil espectadores confirmou ser um dos maiores – se não o maior – festivais de cinema realizado em Portugal. E poderá crescer mais e de forma mais estável: foram estabelecidos os acordos para apoios plurianuais com o Instituto do Cinema e do Audiovisual e com a Câmara Municipal de Lisboa.

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