Via de Acesso, de Nathalie Mansoux
O tema é a demolição de um bairro de lata, a Azinhaga dos Besouros, na Amadora, que deu grande polémica, pois muitas pessoas não foram realojadas. Chama-se Via de Acesso. E as primeiras imagens confrontam-nos com viadutos e auto-estradas. Há um sentido irónico que pauta o filme de Nathalie Mansoux, uma francesa que vive em Portugal. Um jogo habilidoso entre o que se vê e o que se ouve. Sem margem para a imparcialidade. Via de Acesso é um documentário militante, activista, denunciador. E ainda bem que assim é. Há uma mensagem a transmitir. E Nathalie gere os meios para o fazer da forma mais eficaz. A realizadora explica o seu interesse: «Desde as minhas primeiras estadias em Lisboa, assisti à erradicação de vários bairros degradados e à explosão de bairros sociais, condomínios de luxo e infra-estruturas rodoviárias na paisagem urbana. Fiquei atraída e chocada porque me parecia que nada se tinha aprendido da experiência de outros países europeus que realojaram pessimamente a sua mão-de-obra imigrante há décadas. Vinha de França onde o tema da imigração já estava muito na moda em filmes, debates, etc. Aqui havia poucos filmes contemporâneos que tratassem desta questão político-social. Em todo o caso, lá ou cá (nos anos a seguir, cansei-me de distinguir o lá do cá), poucos filmes tinham um olhar político, a não ser os de Pedro Costa.»
A história não é muito antiga. Tem apenas dois anos. Um bairro degradado na Amadora foi demolido, tendo em vista a construção de uma via de acesso a um Centro Comercial. Havia um programa de alojamento. Mas este só contemplava as pessoas recenseadas em 1993. Tal deixou várias famílias, a maioria de origem cabo-verdiana, desalojadas. A forma como isto é mostrado é que é incrível. Começa por revelar um óptimo sentido de oportunidade, de estar presente quando as coisas se passam. E depois uma proximidade da população. E finalmente a inteligência ao comunicar. É brilhante a leitura das cartas dos moradores, em voz off. «Em relação às pessoas filmadas, a minha posição não era muito clara, visto que eu me tornei activista do grupo do Direito à Habitação, o que facilitava (ou enganava) a relação com a câmara. Mas eu acreditava na luta e queria mudar alguma coisa...», conta.
Nathalie Mansoux vive em Portugal há 11 anos e tem trabalhado sobretudo em legendagem e tradução. Para realizar Via de Acesso precisou de vários e generosos apoios, incluindo a montadora, Justine Lemahieu, que trabalhou dez meses sem receber. Agora espera retomar um filme sobre o aborto, que começou a fazer com Paulo Fidalgo, novamente com uma atitude militante: «Mesmo com a IVG legalizada, as pessoas que filmámos (num bairro social) e encontrámos na altura (durante o processo da Maia no Porto) seguem com muitos problemas não resolvidos, porque são pobres, vivem isoladas».
Teatro Maria Matos 1, dia 28, às 19 e 15; Londres, dia 30, ás 17 e 45
O tema é a demolição de um bairro de lata, a Azinhaga dos Besouros, na Amadora, que deu grande polémica, pois muitas pessoas não foram realojadas. Chama-se Via de Acesso. E as primeiras imagens confrontam-nos com viadutos e auto-estradas. Há um sentido irónico que pauta o filme de Nathalie Mansoux, uma francesa que vive em Portugal. Um jogo habilidoso entre o que se vê e o que se ouve. Sem margem para a imparcialidade. Via de Acesso é um documentário militante, activista, denunciador. E ainda bem que assim é. Há uma mensagem a transmitir. E Nathalie gere os meios para o fazer da forma mais eficaz. A realizadora explica o seu interesse: «Desde as minhas primeiras estadias em Lisboa, assisti à erradicação de vários bairros degradados e à explosão de bairros sociais, condomínios de luxo e infra-estruturas rodoviárias na paisagem urbana. Fiquei atraída e chocada porque me parecia que nada se tinha aprendido da experiência de outros países europeus que realojaram pessimamente a sua mão-de-obra imigrante há décadas. Vinha de França onde o tema da imigração já estava muito na moda em filmes, debates, etc. Aqui havia poucos filmes contemporâneos que tratassem desta questão político-social. Em todo o caso, lá ou cá (nos anos a seguir, cansei-me de distinguir o lá do cá), poucos filmes tinham um olhar político, a não ser os de Pedro Costa.»
A história não é muito antiga. Tem apenas dois anos. Um bairro degradado na Amadora foi demolido, tendo em vista a construção de uma via de acesso a um Centro Comercial. Havia um programa de alojamento. Mas este só contemplava as pessoas recenseadas em 1993. Tal deixou várias famílias, a maioria de origem cabo-verdiana, desalojadas. A forma como isto é mostrado é que é incrível. Começa por revelar um óptimo sentido de oportunidade, de estar presente quando as coisas se passam. E depois uma proximidade da população. E finalmente a inteligência ao comunicar. É brilhante a leitura das cartas dos moradores, em voz off. «Em relação às pessoas filmadas, a minha posição não era muito clara, visto que eu me tornei activista do grupo do Direito à Habitação, o que facilitava (ou enganava) a relação com a câmara. Mas eu acreditava na luta e queria mudar alguma coisa...», conta.
Nathalie Mansoux vive em Portugal há 11 anos e tem trabalhado sobretudo em legendagem e tradução. Para realizar Via de Acesso precisou de vários e generosos apoios, incluindo a montadora, Justine Lemahieu, que trabalhou dez meses sem receber. Agora espera retomar um filme sobre o aborto, que começou a fazer com Paulo Fidalgo, novamente com uma atitude militante: «Mesmo com a IVG legalizada, as pessoas que filmámos (num bairro social) e encontrámos na altura (durante o processo da Maia no Porto) seguem com muitos problemas não resolvidos, porque são pobres, vivem isoladas».
Teatro Maria Matos 1, dia 28, às 19 e 15; Londres, dia 30, ás 17 e 45
0 comentários:
Enviar um comentário