segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Norma e Medeia na Gulbenkian

Ainda que com a chuva do mundo a abater-se sobre nós, houve um oásis de música neste fim-de-semana. No grande auditório da Fundação Calouste Gulbenkian, sábado e domingo, pelas 20 horas, duas óperas em versão concerto. Duas mulheres fatais – Norma e Medeia – heroínas trágicas da Antiguidade, como foram apelidadas no ciclo organizado pela Gulbenkian, que se iniciou com Elektra, a 19 de Janeiro. Norma, de Vincenzo Bellini, contou com a interpretação segura do soprano Silvana Dussmann – ainda que tenha falhado alguns (poucos) agudos. A sua Casta diva foi verdadeiramente sublime. Mas o ‘herói’ da noite foi o tenor Johan Botha, na sua interpretação de Pollione – uma surpresa depois de uma prestação sem grande chama no seu papel em Elektra. Todas as notas foram cantadas com precisão e timbre maravilhosos, e a sua presença em palco ‘prendeu’ a plateia. Destaque também para o soprano Heidi Brunner – Adalgisa.
Em Medeia, de Luigi Cherubini, houve um aviso inicial. O maestro Lawrence Foster dirigiu-se à plateia para avisar que existiam pequenas alterações de forma no texto, daí que o programa de sala não correspondesse na íntegra ao que se estava a cantar no palco. «Para que não pensem que nos estamos a enganar», disse. Pausa. Risos na sala. «Embora seja possível!». Mais risos ainda. Soam as primeiras notas de um prelúdio lindíssimo e magistralmente tocado pela Orquestra Gulbenkian. Medeia, o soprano Iano Tamar, esteve bem, embora nalguns momentos lhe faltasse a força da personagem. A força de Medeia soou inteira na voz e dicção perfeitas da actriz Manuela de Freitas que, de negro vestida, leu excertos de Medeia, de Séneca. O tenor Alan Woodrow, na sua interpretação de Jasão, não foi feliz, tendo sido abafado pela presença e timbre do barítono Jochen Schmeckenbecher, como Creonte. Ambas as óperas contaram com as prestações incisivas da Orquestra e do Coro Gulbenkian, dirigidos pelo extraordinário Lawrence Foster. Quer em Norma, quer em Medeia, o palco foi aberto para o jardim. Na grande janela podia ver-se a chuva a cair constantemente sobre o verde. Cenário perfeito para ajudar a
ca(o)ntar a história destas heroínas trágicas.



Medeia. Ilustração de André Carrilho

0 comentários: