quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O lado irreverente da vida

Só hoje soube pela crónica do Lobo Antunes que o meu querido professor Rodrigues da Silva morreu. Como é possível? Ele que me tirou a mim e aos outros 15 das trevas, que nos mostrou o mundo da cultura, que nos fez descobrir que podíamos ser tudo o que quiséssemos desde que nos entregássemos por inteiro. Ele que entre 1983-85 esgotou a verba da Esc. Sec. D. Maria I para nos levar a tudo o que era agenda cultural, desde a Cornucópia ao Quarteto, passando pela Cinemateca e pela Comuna. Ao longo destes mais de 20 anos, sempre que se cruzava com um de nós em Lisboa, lembrava-se de nós, reconhecia-nos. Sempre a sorrir, com a sua roupa saída do Maio de 68. Mostrou-nos o lado irreverente, não-alinhado, da vida. Fez-nos ver que continua a fazer sentido ser de esquerda, que não nos devemos conformar. Assustou-se quando lhe disse que ia para Direito, pediu-me que fosse para Teatro. Fui para Direito mas não me esqueci do que me ensinou e levei a irreverência comigo, nunca perdi o olhar crítico com que me ensinou a mim e àquela turma fantástica a filtrar o que nos rodeia. Deixou-me uma directiva escrita na despedida do 11.º ano - Nunca perca a alegria de viver! Tornei essa frase no meu imperativo categórico de vida. Mas, hoje não posso deixar de estar triste, muito triste. Fiquei mais velha com esta minha perda.Desculpe lá, stôr, mas tenho mesmo que chorar.

Rita Torroais

0 comentários: