sábado, 12 de julho de 2008

Os quadros vivos de Caravaggio

Caravaggio, de José Maria Vaz da Silva

José Maria Vaz da Silva visitou a deslumbrante estética de Caravaggio, num filme bem cuidado nos pormenores. O Blogue do JL falou com o realizador.

É quase inevitável falar de Peter Greenaway a propósito do teu filme. Depois de A Ronda da Noite, Greenaway está a pensar dar movimento a uma série de clássicos da História de Arte, o que tem criado alguma controvérsia. Consideras que isso é legítimo ou um sacrilégio?
A partir do momento em que a pintura do Caravaggio, o pintor maldito, foi feita através de quadros vivos, não vejo que seja sacrílego voltar a essa representação da vida. As artes visuais são a representação da vida. A pintura é um momento. Mas a forma como o Caravaggio montava um quadro vivo – com prostitutas de rua, etc –, era um grande escândalo na época. Eu tentei fazer o mesmo e dar uma continuidade, mostrando como Cravaggio imagina e analisa os quadros que vai pintar. Quis mostrar os bastidores do quadro.

O que te seduziu em Caravaggio, a questão da luz?
A ideia foi do Fernando Lopes, de fazer qualquer coisa a partir dos sonhos do Antonio Tabucchi. Li vários contos e escolhi o Caravaggio porque, em primeiro lugar, é um pintor maldito. Depois o lado de contradição da sua personalidade: alguém muito violento, que se metia em grande lutas, mas que, ao mesmo tempo, nos quadros, mostra a sensibilidade do pormenor. E, claro, também a luz. Ele revolucionou completamente o uso da luz.

Como foi a transposição dessa parte mais estética, de fotografia?
A partir do momento em que se resolveu manter a questão da época, tornou-se necessária a fidelidade aos quadros do Caravaggio e à sua luz. Fazer algo de muito semelhante, que desse essa mesma ideia. O director de fotografia estudou a luz dos quadros, e também houve uma grande preocupação com o guarda-roupa. Por aqui se vê que o cinema é um trabalho de equipa.

E ao mesmo tempo contar uma história...
Tentar adaptar uma história a partir do conto. O texto do Tabucchi é muito adapatável. Senti naquele sonho logo uma grande inspiração.

E agora o que estás a preparar?
Tenho vários projectos. É preciso algum dinheiro e apoios para fazer um filme. O Caravaggio concorreu a vários concursos e nunca foi subsidiado. Continuo a concorrer, tenho ideias para curtas e para uma longa. É uma luta.



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