sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Imperador da língua portuguesa...




...assim lhe chamou Fernando Pessoa. Sobre António Vieira, nascido há 400 anos, apenas há que recordar (muitas vezes) a fulgurante luz das suas palavras que atravessam os séculos. Mesmo que já não o ouçamos na solenidade de uma Igreja, continuamos a calar-nos ante um génio que conheceu, como poucos, as especificidades de Portugal e dos portugueses.


Do Sermão a Santo António que, por doença, Vieira não chegou a pregar em Roma, a 13 de Junho de 1672
«Em chegando aos horizontes da Lusitânia, ali se afogam os raios, ali se sepultam os resplendores, (...) Um vereis privado com a infâmia do governo, outro preso e morto em um hospital, outro retirado e mudo em um deserto, e o melhor livrado de todos, o que se mandou sepultar nas ondas do Oceano, encomendando aos ventos levassem à sua Pátria as últimas vozes com que dela se despedia: Ingrata pátria, non possidebis ossa mea


Do Sermão da 3ª quarta-feira da Quaresma, pregado na Capela Real, em 1651
«Se os vossos serviços são mal premiados, baste-vos saber que são bem conhecidos. Que importa que subais mal consultados dos ministros, se estais bem julgados da fama? Que importa que saísses escusado do tribunal, se o tribunal fica acusado. (...) Se serviste a pátria, que vos foi ingrata, vós fizestes o que devíeis, ela o que costuma. O servo não recebe utilidade do seu serviço, porque é obrigado a servir: e assim há-de servir quem serve generosamente. (...) Quem fez o que devia, devia o que fez; e ninguém espera paga de pagar o que deve. Se servi, se pelejei, se trabalhei, se venci, fiz o que devia ao rei, fiz o que devia à pátria, fiz o que me devia a mim mesmo: e que se desempenhou de tamanhas dívidas, não há-de esperar outra paga. (...) Quem mais é, e mais pode, mais deve.
Os reis podem dar títulos, rendas, estados; Mas ânimo, valor, fortaleza, constância, desprezo da vida, e as outras virtudes de que se compõe a verdadeira honra, não podem. (...) Lembre-se o capitão e soldado famoso de quantos companheiros perdeu, e morreram nas mesmas batalhas, e não se queixam. Os que morreram, fizeram a maior fineza, porque deram a vida por quem lha não pode dar».

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