Voei até Londres naquela que é, segundo dizem, uma das piores companhias aéreas do mundo ocidental (as linhas aéreas do Burkina Faso e a Air Namíbia batem-na aos pontos). É tão económica que os bilhetes às vezes até são de graça (pagam-se apenas as taxas), mas tudo é pretexto para cobrar uns euros. Vinte por cada mala, 10 pela bagagem de mão, 15 por cada quilo a mais, cinco para entrar primeiro no avião. Não há lugares marcados. Por isso, lá dentro, as pessoas (na maioria ingleses daqueles que vão para o Algarve) acotovelam-se para assegurar um lugar à janela. O pessoal de bordo, os mais antipáticos escolhidos a dedo, querem lá saber se as famílias vão separadas, ou se uma criança de quatro anos tem que viajar sozinha, porque não há espaço ao lado da mãe. É uma espécie de autocarro da Carris onde toda a gente tem que ir sentada. Os bancos não se reclinam, uma garrafa de água custa dois euros e pelo caminho vendem uma espécie de lotaria, alegando que é para fins humanitários. O Aeroporto de Stansted (pequenino e jeitozinho) é dos que fica mais longe da cidade. É como um lisboeta ir apanhar o avião a Leiria. Ou um portuense fazê-lo em Coimbra. A propósito, eu que moro em Lisboa, apanhei-o em Faro, mas isso já não é culpa da companhia. Quando, finalmente, já não sei quantas horas depois, cheguei, concluí: os melhores aviões são aqueles que não caem.
Mesmo num voo da Ryan Air, onde as parecenças com um autocarro nos distraem, há sempre uma grande tensão entre os passageiros, principalmente na descolagem e aterragem. Já não se fazem toilettes para o passeio como outrora e a solenidade do voo desgastou-se pela recorrência, mas há sempre uma comichão na barriga que se reflecte nos olhares, significativamente diferente de quando se entra num comboio, barco ou camioneta, apesar de, nestes outros meios, os acidentes serem mais vulgares. É natural: para leigos, como eu, um monstro daqueles conseguir voar sem bater as asas parece, ainda hoje, um milagre aerodinâmico. Uma experiência suprema, em que, de forma arrogante e radical, o homem desafia os limites que a gravidade lhe impôs.
O resto já se sabe: os aviões caem, os barcos naufragam e os comboios descarrilam. Estas são apenas algumas das formas mais espectaculares de morrer. Outra, mais triste, é deitado numa cama de hospital. Agora escolham. Viver para sempre não está no menu.
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