The sound of Motown. Toda a gente queria fazer aquele som. Artistas rumavam a Detroit, terra natal da editora, achando que ele estava na atmosfera, que seria só fechar a mão e agarrá-lo. A verdade é que os músicos da Motown nem sequer gravavam todos em Detroit (a editora tinha aí apenas um estúdio) e nem por isso deixavam de ter 'aquele' som. Smokey Robinson, uma das estrelas, disse: «para mim, o som Motown não é um som que se possa ouvir. É espiritual e vem de dentro das pessoas que o fazem». Seria uma perfeita definição de música soul. Mas não é só de soul que se fala aqui.
Diana Ross and the Supremes, Jackson 5, Marvin Gaye, Mary Wells, Gladys Knight, The Commodors, Lionel Richie, Stevie Wonder – são alguns exemplos dos exímios criadores e intérpretes de uma música que soube misturar a alma da soul (perdoe-se o pleonasmo) e a simplicidade da pop. Será seguro dizer que nenhum teria sido o que foi (e é, como referência para todos os artistas r’n b que hoje nascem como cogumelos) se não tivessem a etiqueta com o característico M colada às suas peles.
Todas as grandes obras nascem de grandes ideias e estas de grandes cabeças. O ‘idiota’ de serviço nesta história foi Berry Gordy, jovem compositor afro-americano de Detroit, que percebeu que faria mais dinheiro se produzisse discos numa editora própria. Criou, em 1959, a Tamla Records, que rapidamente renomearia de Motown Records, e revolucionou o meio musical (e, como consequência, o meio social) da altura. É que a época que se vivia era tudo menos simpática para os artistas afro-americanos. Brancos e negros tinham espaços separados, tanto nos programas de televisão como na mentalidade geral. Berry Gordy assinou só com artistas afro-americanos e mudou as cores dos primeiros lugares dos tops e nos prémios de música. Vários hits, canções que permaneciam no número 1 várias semanas, Grammys – a Motown pôs os Estados Unidos, o Reino Unido e rapidamente o mundo inteiro a ouvir a soul-pop especial que saía daqueles músicos e daquelas vozes. O sucesso talvez se deva à extrema exigência de Gordry na escolha das músicas a serem gravadas, que deu até curiosos episódios como a recusa inicial de Heard it through the gravepine, tema depois celebrizado por Marvin Gaye.
A Motown soube crescer, abraçando novos talentos e criando sub-editoras. Além disso, sempre cuidou dos seus músicos (a elegância que lhes era característica não era um acaso – a editora oferecia-lhes aulas de estilo e postura, para que agissem como estrelas). Conseguiu ainda entrar em Hollywood, onde fez de Diana Ross uma estrela.
Mas o grande feito não está nos prémios, tops ou lucros. Berry Gordy and friends criaram um som próprio, de tal forma que a certa altura não se percebe se Motown é nome de etiqueta discográfica ou de estilo de música.
Já passaram 50 anos, agora celebrados com a reedição de álbuns e um triplo CD especial com músicas escolhidas em votação pelos fãs. O aniversário da editora é uma desculpa tão boa como outra qualquer para ouvir (mais uma vez e outra e outra) este som inconfundível. Ladies and gentlemen, put your hands together for the sound of Motown.
3 comentários:
Por aqui passou o futuro e passado de toda a música pop/rock.
Gostei do blogue. Com mais tempo vou voltar e "cuscá-lo" de fio a pavio.
Abraço
Ofeliazinha
http://ofeliazinha.weblog.com.pt/
Já comprei o triplo CD. É maravilhoso. Impossível parar de dançar.
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