E se Obama fosse africano? e outras interinvenções é o título do novo livro de Mia Couto. Editado pela Caminho, com capa de Pedro Proença e uma tiragem de cinco mil exemplares, o volume reúne um conjunto de textos de intervenção do escritor moçambicano, resultado da participação em encontros e colóquios no seu país e no estrangeiro. «Tal como o anterior Pensatempos, este não é um livro de ficção. Os textos que aqui se reúnem cumprem a missão de intervenção social que a mim mesmo me incumbo como cidadão e como escritor», explica Mia Couto na introdução. «Alguns destes textos foram concebidos para o contexto de Moçambique e, eventualmente, pecarão por essa especificidade para o leitor não moçambicano. Acredito, porém, que os rios que percorrem o imaginário do meu país cruzam territórios universais e desembocam na alma do mundo.»
A história de um velho guarda, de uma localidade isolada, que durante anos cumpriu a sua missão de registar os níveis de um rio, mesmo depois do início da «guerra de desestabilização» e de ter ficado sem formulários, passando a assentar as medições nas paredes da sua estação hidrométrica, serve de metáfora à crença do autor no futuro e na Humanidade. «A esperança é a última a morrer, diz-se. Mas não é verdade. A esperança não morre por si mesma. A esperança é morta. Não é um assassínio espectacular, não sai nos jornais. É um processo lento e silencioso que faz esmorecer os corações, envelhecer os olhos dos meninos e nos ensina a perder crença no futuro», diz Mia Couto. «O episódio da estação hidrométrica passou a ser um dos alimentos do meu sentimento de esperança. Como se me lembrasse que devo dialogar com invisíveis rios e tudo em meu redor podem ser paredes onde eu nego a tentação do desalento».
O título do livro, E se Obama fosse africano?, refere-se ao artigo que o autor de Terra Sonâmbula, O Último Voo do Flamingo ou Venenos de Deus, Remédios do Diabo publicou no jornal Savana, em Novembro de 2008, após a eleição do novo Presidente dos EUA. As contradições de África e o olhar exterior dos europeus são evidenciadas com o conhecimento de quem convive diariamente com os costumes e os dilemas de Moçambique. Esse é, de resto, o denominador comum de todas estas «interinvenções». O testemunho de alguém que aceita a velocidade contemporânea e a sua modernidade, mas que não quer abdicar de uma identidade que se afirma pela diferença.
Uma visão que também pressupõe a aceitação da pluralidade linguística do homem africano. «O que advogo é um homem plural, munido de um idioma plural. Ao lado de uma língua que nos faça ser mundo, deve coexistir uma outra que nos faça sair do mundo. De um lado, um idioma que nos crie raiz e lugar. Do outro, um idioma que nos faça ser asa e viagem», defende Mia Couto num destes textos. E acrescenta: «Ao lado de uma língua que nos faça ser humanidade, deve existir outra que nos eleve à condição de divindade».
A história de um velho guarda, de uma localidade isolada, que durante anos cumpriu a sua missão de registar os níveis de um rio, mesmo depois do início da «guerra de desestabilização» e de ter ficado sem formulários, passando a assentar as medições nas paredes da sua estação hidrométrica, serve de metáfora à crença do autor no futuro e na Humanidade. «A esperança é a última a morrer, diz-se. Mas não é verdade. A esperança não morre por si mesma. A esperança é morta. Não é um assassínio espectacular, não sai nos jornais. É um processo lento e silencioso que faz esmorecer os corações, envelhecer os olhos dos meninos e nos ensina a perder crença no futuro», diz Mia Couto. «O episódio da estação hidrométrica passou a ser um dos alimentos do meu sentimento de esperança. Como se me lembrasse que devo dialogar com invisíveis rios e tudo em meu redor podem ser paredes onde eu nego a tentação do desalento».
O título do livro, E se Obama fosse africano?, refere-se ao artigo que o autor de Terra Sonâmbula, O Último Voo do Flamingo ou Venenos de Deus, Remédios do Diabo publicou no jornal Savana, em Novembro de 2008, após a eleição do novo Presidente dos EUA. As contradições de África e o olhar exterior dos europeus são evidenciadas com o conhecimento de quem convive diariamente com os costumes e os dilemas de Moçambique. Esse é, de resto, o denominador comum de todas estas «interinvenções». O testemunho de alguém que aceita a velocidade contemporânea e a sua modernidade, mas que não quer abdicar de uma identidade que se afirma pela diferença.
Uma visão que também pressupõe a aceitação da pluralidade linguística do homem africano. «O que advogo é um homem plural, munido de um idioma plural. Ao lado de uma língua que nos faça ser mundo, deve coexistir uma outra que nos faça sair do mundo. De um lado, um idioma que nos crie raiz e lugar. Do outro, um idioma que nos faça ser asa e viagem», defende Mia Couto num destes textos. E acrescenta: «Ao lado de uma língua que nos faça ser humanidade, deve existir outra que nos eleve à condição de divindade».
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