Um voo de planador sobre a savana africana, dois amantes de mãos dadas ante a desmesurada beleza do momento que vivem. Se mais nao houvesse, bastaria África Minha para transformar Sidney Pollack num clássico do cinema norte-americano, daqueles que, para nosso deleite, filmavam histórias em que o amor tomava de assalto a estreiteza do quotidiano. Mas há mais - muito mais. O realizador falecido na passada segunda-feira, aos 73 anos, admitia ser um romântico incurável não apenas no modo como filmava a paixão, mas também no modo como defendia os seus valores éticos e políticos, tendencialmente de esquerda. Com um pé fora e outro dentro do star system (dirigiu todas as grandes estrelas das décadas de 60 e 70, nomeadamente Robert Redford, Warren Beatty, Jane Fonda, Al Pacino, Dustin Hoffman, Meryl Streep, Nicole Kidman e Sean Penn), Pollack desde cedo que fez questão de assinar obras social e politicamente empenhadas. É o caso de Os Cavalos Também se Abatem e de Os Três Dias do Condor, num ambiente dominado pela contestação à Guerra do Vietname. Mas a idade (e a mudança dos tempos), se o tornou mais sofisticado, não o apaziguou. No princípio dos anos 90, ao filmar Havana (uma história de amor à la Casablanca), tornou-se um dos poucos (senão o único) cineasta americano a fazer um filme favorável à revolução cubana, a Fidel de Castro e a Che. Em 2005, a sua última longa-metragem de ficção (A Intérprete) foi um thriller político que reflectia o ambiente de terror saído do 11 de Setembro.
O cancro surpreendeu-o quando preparava um documentário sobre a obra de Frank Gehry. Para a história, ficam vários filmes inesquecíveis (à cabeça dos quais surgirão fatalmente os sete Oscares de África Minha) e várias intervenções como actor em filmes de outros (a última das quais em Michael Clayton, como patrão de George Clooney). Se houvesse justiça poética, haveria agora uma guarda de leões à sua sepultura.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Sidney Pollack (1934-2008)
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