sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Nomeação selvagem?




Nunca se perceberam muito bem os critérios da Academia para a nomeação dos Óscares. Por vezes mudam de ano para ano, outras parecem seguir a crista da onda do momento, noutras ainda o inexplicável acontece. Como em O Lado Selvagem, a quarta longa-metragem de Sean Penn. Nem uma referência ao argumento adaptado do livro de Jon Krakauer, à música original de Eddie Vedder, vocalista dos Pearl Jam, nem à extraordinária interpretação de Emile Hirsch, no papel principal. Apenas uma justificada nomeação para a edição, de facto inatacável, e para o actor secundário… Hal Holbrook, um histórico de Hollywood, com uma profícua carreira, sobretudo na televisão. Não se nega a intensidade do seu desempenho, a forma como, por um lado, se apresenta como figura solitária, dilacerada pela morte da mulher e do filho, enquanto combatia na guerra ao serviço dos EUA, e, por outro, se entrega emocionalmente à oportunidade de mudar de vida, de aproveitar, no punhado de anos que lhe resta, cada dia que passa, como lhe ensina o viandante com que se cruza. No entanto, diga-se o que se disser, se O Lado Selvagem tem fascinado espectadores por todo o mundo, tornando-se até um filme de culto, tal com a reportagem – livro que lhe deu origem, deve-se precisamente à força desta história verídica muito bem contada por Jon Krakauer, que Sean Penn seguiu à risca, e à forma como Emile Hirsch, no seu primeiro grande papel, mergulhou na personagem. E não era tarefa fácil. Porque à deambulação física pela América, seguindo as pegadas de Christopher McCandless, um jovem da classe alta que deixou tudo para comungar directamente com a Natureza, Hirsch teve de acrescentar a dimensão psicológica de alguém que levou à letra os preceitos de escritores como Thoreau, London, Byron ou Tolstói. Daqui a muitos anos, poucos se lembrarão desta 80.ª edição da entrega dos Óscares, mas suspeito que muitos guardarão na memória uma fracção que seja desta evocação da liberdade que se transformou em tragédia. E isso deve-se a Emile Hirsch.

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