sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Paraíso artificial

É de louvar a iniciativa da editora Cotovia que, através dos Livros da Raposa, nos traz reedições de obras que há muito foram esquecidas. Não pelos leitores – ou não só pelo leitores – mas por editores e livreiros. Foi, assim, com agrado, que devorei, página atrás de página, O Ente Querido, de Evelyn Waugh (1903 -1966), numa tradução antiga – remonta aos anos 50 –, mas sempre actual, de Jorge de Sena. Através da sátira, da ironia e do humor, o autor leva-nos ao «éden apressado e higiénico» que é a América. Ou a sua visão desta. Isto porque o confronto entre a cultura americana e a inglesa é o tema central da obra, que se desenrola na Califórnia.
Dennis Barlow, jovem poeta inglês não muito bem sucedido, vê-se compelido a organizar o enterro de um velho escritor seu conterrâneo que se suicida após ser despedido dos estúdios de cinema onde trabalhava. E é aí que vai conhecer um cemitério muito especial, onde os «entes queridos» são sepultados em paraísos terrestres. O cemitério serve de metáfora à própria sociedade americana ou, pelo menos, à sociedade americana vista por Waugh: materialista e artificial. Características que se escondem atrás de uma espiritualidade «de encomenda». Há ainda, como não poderia deixar de ser, uma relação amorosa, entre o protagonista e uma americana, relação esta que sobrevive e se desenvolve à custa de poemas «roubados» por Barlow ao Oxford Book of English Verse.
Brilhantismo na escrita que vale a pena ler, ou reler. Já no prelo da Cotovia está, do mesmo autor, Um Punhado de Pó. Ficamos à espera.

1 comentários:

Joana Serrado disse...

Ola Rita.
É engraçado reencontrá-la aqui. Acho que nunca lhe cheguei a dar os parabéns pelo seu artigo sobre o Tratado de Botanica. Mostrou muita sensibilidade e carinho pelos meus poemas (o que para quem escreve é tão importante). venha quando quiser ao meu jardim.

Um abraço

Joana