quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Untouchable face, de Ani DiFranco



Untouchable face, de Ani DiFranco, é uma das melhores canções que já foram escritas sobre o ciúme. Um ciúme corrosivo que se transforma em raiva. Primeiro é pintado o cenário. Ela está irrequieta. E o seu amor é ilimitado e ilógico. Diz: «To be honest I prefer the worst of you, too bad you have a better half». É uma irónica evocação do tal lado lunar de que fala Rui Veloso/Carlos Tê que só parece bonito a quem ama. Mas, com algum fairplay, admite: «I Hate to say this, but you’re perfect together». E o que fazer e o que dizer quando a pessoa amada é feliz com outro alguém? «Nothing, except fuck you», é a resposta de Ani DiFranco, expressa com toda a intenção. E este «fuck you», aparentemente tão apoético, torna-se a expressão cirugicamente precisa para resumir um sentimento complexo. Não é apenas má-educação, antes um exorcismo. E se o ódio e o amor estão próximos, aqui tal nem sequer é dissimulado. Este «fuck you» quer dizer mesmo «amo-te» e «amo-te de forma intensa, furiosa e descontrolada». Termina com a insistência na pergunta legítima de quando tudo se desmorona: «Who am I?». Sem resposta. A canção integra o álbum Dilate (1996) e uma versão ao vivo é incluída na agora editada colectânea Canon.

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