quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Lendo o que escreves

Alguém lê o que escreves, triste consolação,
pálida alegria, caindo a tarde sobre as coisas.
A vida perfeita vem do outro lado do mar,
como uma frase que nunca foi dita, amável
claridade que os seus olhos nunca atormentam;
não têm fundo. A vida perfeita é breve.

Cada palavra é um resumo – e, em cada palavra,
quanto deixas de teu?, quanto delas se perde
nas florestas? O silêncio protege-te de ti mesmo,
guarda os dias para os grandes passeios
entre as fronteiras da terra distante, onde a luz
te espera; guarda qualquer coisa nesse espaço

em branco do teu coração. Quantas noites
o que escreveste se perdeu – sem saberes, afinal,
que para ela escrevias? Tentação quando a tua
natureza cede e a vida regressa para que tu fales,
alguma vez falando de amor, quase sem respirar.
Que não esteja nos teus braços, mas que se aproxime,

como o calor da ventania, os passos da areia, a sede
de outra sede igual. Como saberias que o amor existe
longe da sua pele? Se escreves, sobre isso escreves,
e dizes o nome dos planetas, das feridas. Esperas
que venha esse sinal e te chame quando a noite
não sabe de que lado está, nem de que lado dorme.

Francisco José Viegas

Do novo livro de poemas Se me Comovesse o Amor, editado pela Quasi.

2 comentários:

Artur Corvelo disse...

Melhor só Pedro Mexia

JBMartins disse...

"Lendo o que escreves"

Poesia pesada, é a minha opinião.
Quase prosa.
Ou trata-se de um texto em prosa distribuido em versos?
F J V é um prosador, não é um versejador (poeta)