Veio como que por acaso parar à minha mesa-de-cabeceira. Na verdade, e embora me custe reconhecer, nunca tinha tido particular curiosidade pela escrita de Adolfo Bioy Casares. Não sei explicar porquê, mas por algum motivo os nossos caminhos nunca se tinha cruzado. Mas seja. Reconheço a falha. Retomando. Um amigo emprestou-me A Invenção de Morel (Edições Antígona, 144 pp, 13,01 euros). Pousei-o em cima da mais recente pilha de livros que tenho em casa. E o certo é que não consegui parar de olhar para ele. Nessa mesma noite peguei no pequeno volume e compulsivamente, página atrás de página, fui lendo aquela que é considerada a principal obra do autor.
Escrita em 1940, A Invenção de Morel transporta-nos por um universo fantástico. Casares fá-lo, porém, de uma forma que nos leva a acreditar na fantasia. O irreal transforma-se em real, e os sentidos confundem-se.
O livro apresenta-se sob a forma de diário. Somos, pois, conduzidos através das palavras de um homem que se refugia numa ilha isolada, amaldiçoada por uma doença – uma peste que «mata de fora para dentro». Mas rapidamente percebemos que não podemos confiar completamente neste narrador, dada a figura de um editor que, em pequenas notas de rodapé, nos chama a atenção para as contradições e inverosimilhanças presentes no texto.
E, quando o diarista crê estar sozinho neste universo, começa a ouvir sons, vozes, música, pessoas. A curiosidade é mais forte que o medo e começa a observar os seus companheiros de reclusão. São estranhos. Nadam em piscinas de água suja, vestem roupas quentes quando está calor, frescas quando está frio, dançam à chuva. E ignoram completamente a sua presença. O que não seria completamente mau – uma vez que lhe interessa passar despercebido – se o narrador não se apaixonasse por uma das habitantes da ilha. Uma paixão incontrolável, que não consegue, nem quer, combater.
Em A Invenção de Morel, Casares reflecte sobre a imortalidade, a obsessão amorosa e o modo como estamos dispostos a sacrificar até a vida para os obter. E fá-lo através de uma narrativa em que nada está escrito por acaso. Casares cose todas as pontas, que julgávamos soltas, num exercício de alta precisão. E, por isso, há um realismo extremo nesta história fantástica. Uma lógica irredutível que nos leva a acreditar em todas as suas palavras. Mesmo sabendo, de antemão, que aquele narrador não é verdadeiro connosco. E essa é a beleza da literatura.
Escrita em 1940, A Invenção de Morel transporta-nos por um universo fantástico. Casares fá-lo, porém, de uma forma que nos leva a acreditar na fantasia. O irreal transforma-se em real, e os sentidos confundem-se.
O livro apresenta-se sob a forma de diário. Somos, pois, conduzidos através das palavras de um homem que se refugia numa ilha isolada, amaldiçoada por uma doença – uma peste que «mata de fora para dentro». Mas rapidamente percebemos que não podemos confiar completamente neste narrador, dada a figura de um editor que, em pequenas notas de rodapé, nos chama a atenção para as contradições e inverosimilhanças presentes no texto.
E, quando o diarista crê estar sozinho neste universo, começa a ouvir sons, vozes, música, pessoas. A curiosidade é mais forte que o medo e começa a observar os seus companheiros de reclusão. São estranhos. Nadam em piscinas de água suja, vestem roupas quentes quando está calor, frescas quando está frio, dançam à chuva. E ignoram completamente a sua presença. O que não seria completamente mau – uma vez que lhe interessa passar despercebido – se o narrador não se apaixonasse por uma das habitantes da ilha. Uma paixão incontrolável, que não consegue, nem quer, combater.
Em A Invenção de Morel, Casares reflecte sobre a imortalidade, a obsessão amorosa e o modo como estamos dispostos a sacrificar até a vida para os obter. E fá-lo através de uma narrativa em que nada está escrito por acaso. Casares cose todas as pontas, que julgávamos soltas, num exercício de alta precisão. E, por isso, há um realismo extremo nesta história fantástica. Uma lógica irredutível que nos leva a acreditar em todas as suas palavras. Mesmo sabendo, de antemão, que aquele narrador não é verdadeiro connosco. E essa é a beleza da literatura.
0 comentários:
Enviar um comentário