quinta-feira, 28 de maio de 2009

Versos Olímpicos, de José Ricardo Nunes

Cerimónia de Abertura

Entram no estádio e desfilam
as delegações: uma bandeira
por país, um capitão
a comandar os implicados
no crescimento do comércio global.
Os desportistas sorriem, acenam,
cumprem à risca o seu papel de figurantes.
Digo-lhe que não sei parar as imagens.

Reina a paz e a concórdia.
Mesmo os que vieram apenas para competir,
perder, sonham com o milagre
que lhes turva os olhos de glória. E eu,
sentado neste sofá suburbano
que treme à passagem do comboio,
acredito no que lhe digo.

Lembra o comentador, algo comovido
pelas últimas notícias, que na Grécia
faziam tréguas durante os Jogos.
Alguém é dono da verdade? Resta-nos
o poder de mudar livremente de canal
ao sabor dos nossos humores tão variáveis.
Estou sempre a dizer isto à Jacinta.

O Suplente

O futebol preferia
aos livros. Mas livros depois
já não era capaz de distinguir
quem driblava, quem centrava
para dentro da área, se o remate
certeiro concluía uma jogada
ou um poema. Se não podes vencê-los
junta-te a eles. No mesmo banco
em que acompanhava os jogos
da minha equipa leria os livros.
lances e metáforas imaginados,
uma luz crua e breve.
Pois a maior parte do tempo
ficava petrificado, ausente,
como se nem sequer eu
estivesse sentado no banco
a assistir a tudo isto.

Espírito Olímpico

Há palavras que nunca servem
e palavras que se adaptam ao que pretendemos.
Talvez haja alguma apropriada para morrer.

O poeta deve procurar a palavra certa?
Deixemo-nos de conversas.
Temos à disposição palavras limpas
e palavras com restos de terra e sujidade.
Qualquer palavra se pode confundir com outra.
Já não é possível confiar em palavras.

Transferem-mos, os versos? Mundo
e condição, os versos e a vida igual
de quem os escreve, com facturas
e pequenas glórias e desumanidades,
qualquer que seja o lado da muralha.

Às vezes ouvimos mal a palavra
que traz dentro um verso. Imperfeito?
Escrevemos o que não queremos,
repetimos erros, aprendemos,
quase tudo uma questão de sorte.
Quarenta dias. Apenas quarenta dias.

Do novo livro de poemas de José Ricardo Nunes, Versos Olímpicos, uma edição da Deriva.

2 comentários:

anareis disse...

Estou fazendo uma campanha de doações para meu projeto da minibiblioteca comunitária e outras atividades para crianças e adolescentes aqui no Rio de Janeiro,preciso da ajuda de todas as pessoas de bom coração,pode doar de 5,00 a 20,00.Doações no Banco do Brasil agencia 3082-1 conta 9.799-3 Que DEUS abençõe todos nos.Meu e-mail asilvareis10@gmail.com

Paulo Oliveira disse...

Este poemário publica autores desconhecidos ao público geral ? Isto é subliminarmente um pedido meu, visto que necessito de uma avaliação prudente e imparcial da minha escrita, e poderia passar por rever 2 ou 3 poemas do seguinte blog " www.livron7.blogspot.com " e responder-me. Sendo sim ou não, peço que responda. Obrigado.