sábado, 26 de abril de 2008

O Lar

Tudo lhes diz que a vida é coisa do passado e o lar uma antecâmara da morte, mas eles recusam-se a aceitar o horror de tal sentença. É assim que António Borges Correia filma os velhos e velhas do seu filme O Lar, a exibir domingo, 27, no Fórum Lisboa, às 22 horas, depois de uma apresentação muito bem sucedida no Festival Cinèma du Réel de Paris, em Março último. Segundo admitiu ao JL, «trata-se de um projecto antigo», que já tinha quando saiu do Conservatório em 1992. «Nessa primeira forma – recorda – era uma ficção cruzada sobre um casal de velhos que se reencontra no lar e os seus netos, afinal, as únicas pessoas que os visitavam». 16 anos depois, O Lar surge como um documentário, onde, ao contrário do que acontece quando o tema é a velhice, as notas dominantes são as da esperança, e até do amor.
António Borges Correia fez um longo trabalho de investigação: andou pelo país inteiro até se decidir por um lar quase modelo, em que a extrema organização lhe proporcionou boas condições de trabalho. Durante quase um ano, cerca de duas vezes por semana, filmava com o objectivo muito bem definido de ser «um observador»: «Não queria participar, não queria ser um cúmplice deles, não podia envolver-me emocionalmente. Quis dar-lhes todo o protagonismo, pelo que essa frieza, chamemos-lhe assim, foi deliberada e intencional». Na origem desta preocupação, esteve também a necessidade de preservar a intimidade de quem era filmado: «Filmei mais de 30 entrevistas dos velhos com a psicóloga, mas só aproveitei duas. A maior parte delas relacionavam-se com casos de Alzheimer e eu não queria aproveitar-me dessas situações de extrema fragilidade. Não quis vampirizar, apenas dar forma ao fascínio muito grande que sempre tive pelos rostos dos velhos.»
O processo inverso – o da proximidade – será adoptado no próximo documentário do realizador, neste momento, em fase de pesquisa: «Será um filme sobre os efeitos mais ou menos traumatizantes da Guerra Colonial sobre os antigos combatentes. Quero saber como é que vivem e de que modo a participação no conflito continua a afectar as vidas deles».
Licenciado em Cinema pela Escola Superior de Teatro e Cinema, António Borges Correia, 42 anos, tem trabalhado para Televisão. No cinema, estreou-se com uma curta-metragem, Golpe de Asa (1998), mas admite que o trabalho que mais o marcou foi o documentário Antes da Vida Começar, dedicado à vida da actriz Isabel de Castro: «Era uma personagem absolutamente fascinante».

Fórum Lisboa, domingo, 27, às 22

2 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite, eu gostava muito desta actriz, e apesar de já terem passado alguns anos, não sabia da existência deste documentário, sabe onde posso encontrá-lo em Lisboa (para venda ou visualização) ?

Com os melhores cumprimentos,

Joana Gil

Anónimo disse...

Estava a referir-me ao documentário "Antes da vida começar" sobre a actriz Isabel de Castro