terça-feira, 25 de março de 2008

País cruel

Este Pais Não É Para Velhos, de Cormac McCarthy


Há uns meses que o tinha na minha mesa-de-cabeceira. Mas foi só quando estreou o filme que me resolvi a começar a leitura de Este Pais Não É Para Velhos, de Cormac McCarthy. Queria ler o livro e queria ver o filme. Como os filmes – os bons, pelo menos – são para ver no cinema e os livros – aqueles que merecem o epíteto de Literatura – devem sempre ser lidos antes de ver a respectiva adaptação cinematográfica, e como tanto autor como realizadores me indicavam a qualidade das respectivas obras, deitei mãos, que é como quem diz olhos, à obra.
E, há que dizê-lo, este é um livro que merece, efectivamente, a designação de obra. Com uma escrita magistral, McCarthy reflecte sobre a América dos anos 80 – que revemos, ainda, como a América – senão o mundo – de hoje. Dura, violenta, sem contemplações. Assolada por graves problemas – sendo a droga, a violência, as armas e o grande individualismo vigente os mais prementes ao longo do livro – é um país onde não é fácil viver.
Este País Não É para Velhos é um western passado entre a fronteira dos EUA com o México. Moss, um soldador de 30 anos, encontra, no meio do deserto, uma série de cadáveres e, com eles, não só uma grande quantidade de droga como uma mala com cerca de 2 milhões de dólares. Decide ficar com o dinheiro e será a partir daí que se inicia uma perseguição sem tréguas. Entre os perseguidores encontra-se Chirguh, um assassino psicopata que não hesita em matar, encontrando no acto uma certa lógica, prazer e, até, moral. E a perseguir Chirguh e a tentar salvar Moss, está Bell, xerife dos velhos tempos. Nos seus monólogos, sobre o país e sociedade em que vive, percebemos o desajustamento entre as várias gerações. Embora co-habitando no mesmo tempo histórico, estão extremamente afastadas entre si. Os mais novos estão desorientados, os mais velhos, como Bell, desajustados, e atrasados, face ao mundo em que vivem.
Ao longo da obra McCarthy confronta-nos com a constante luta entre o Bem e o Mal e a importância das escolhas e do acaso na vida de cada um. A versão a que nos habituámos nas fábulas lidas na infância, do Bem a prevalecer sobre o Mal não se aplica nesta história. É o Mal, com toda a sua força e falta de compaixão, que impera. Será a esse novo mundo, individualista, sem valores ou leis, que nos teremos nós, os velhos, que nos ajustar?

1 comentários:

André Moura e Cunha disse...

É na realidade um livro colossal, de um escritor genial.
O canonizador Bloom junta-o a mais 3 (a saber: DeLillo, Pynchon e Roth) no grupo que considera os melhores escitores norte-americanos vivos. E não exagera.
Eu por acaso li o livro, meses antes de sair o filme. E, apesar de andar sempre atento ao mundo da 7.ª arte, só me apercebi pela capa (lendo a ficha técnica onde constava o copyright da imagem escolhida pela RD'A para a capa) que o livro havia sido adaptado ao cinema e logo pela sublime parelha Joel e Ethan Coen.
Já agora o monumental romance distópico A Estrada irá ser adaptado pelo australiano John Hillcoat e o Meridiano de Sangue... por Ridley Scott.