Diz que é missão do intelectual polemizar o seu tempo. E nesta entrevista, como nas suas crónicas e nos seus livros, o escritor espanhol Juan Manuel de Prada, 39 anos, não foge a essa «obrigação». Fala da crise do Ocidente, dos males da Literatura, das suas fórmulas gastas, do maniqueísmo de muitas personagens, da verdade e da mentira, do mal e da culpa, da identidade e da natureza humana. Acredita que, como no seu novo romance, O Sétimo Véu, agora editado em Portugal com a chancela da Dom Quixote, é preciso escavar o passado para encontrar um sentido para o presente. Aqui antecipamos alguns excertos dessa entrevista, que pode ler na íntegra na próxima edição do JL, nº 1006, nas bancas dia 22 de Abril.
Por que razão decidiu enquadrar a história inicial de O Sétimo Véu na II Guerra Mundial e na França ocupada?
A minha formação literária é muito francófona e tenho um grande interesse pela História e Cultura francesas. Isso não me inibe de ser crítico em relação ao seu passado. Sempre me chamou a atenção que um país supostamente civilizado, onde floresceram os pressupostos da modernidade, tenha capitulado, durante a II Guerra Mundial, perante a Alemanha, quase sem batalhar. Era algo que me intrigava. Queria saber como isso foi possível.
Chegou a alguma conclusão?
O desenvolvimento, a prosperidade e as vantagens do progresso converteram a França num país acomodado, sem pulso, nem força de reacção. Nesse sentido, o que lhe aconteceu é um pouco o símbolo do que se passa actualmente no Ocidente. Perante uma crise económica, tudo se desmorona. Não há convicções nem princípios fortes que possam afrontar a contrariedade. Perante ela, desfalecemos sem resistência.
É um pessimista?
Só em relação ao futuro do mundo tal como está organizado hoje em dia. Penso, no entanto, que tudo isso cairá e que surgirá uma ordem nova. A queda da economia ocidental é o fim de uma ordem injusta. E as crises, ao longo da História, sempre provocaram uma renovação da Humanidade. Nessa perspectiva, sou optimista. Claro que as mudanças são precedidas por uma dor muito grande – e parece-me que o drama humano que estamos a sofrer será ainda maior. Mas também acredito que a seguir haverá espaço para a esperança.
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