quinta-feira, 23 de abril de 2009

Cada ribanceira é uma nação

«Rio de ladeiras/ Civilização encruzilhada/ Cada ribanceira é uma nação», sempre que entro no Facebook ou no Twitter ocorre-me esta música de Chico Buarque. Naturalmente, quando Chico escreveu Estação Derradeira, estava a pensar nas favelas, que escorrem pelos morros do Rio de Janeiro, como se fossem ribanceiras, ao mesmo tempo que se fecham nas suas próprias leis como se fossem estados.
O Facebook e o Twitter são mundos enclausuradamente abertos. Existe um eu hiper-enfático, numa arrogância existencial, como se o mundo girasse à volta do ego e se interessasse por cada passo, cada impressão ou cada sentimento do indivíduo. E assim se transformam os mais insignificantes pormenores do quotidiano em algo digno de ser noticiado e comentado, muitas vezes numa voluntária abdicação da privacidade.
Essa abdicação da privacidade transforma estes mundos em algo exemplarmente aberto, de entidades desprotegidas de capas, segredo e mistérios, iludindo-nos com uma transparência que, evidentemente, nunca chega a ser efectiva. Os programas em causa espelham uma necessidade de comunicação, de exasperadamente alcançar o outro, numa sociedade que, segundo se diz e se queixam os analistas, perigosamente se fecha. É essa bipolaridade que torna a coisa interessante: estes cibernautas ao mesmo tempo que se fecham percorrendo com o teclado todos as saliências dos seus umbigos, exibem esplendorosamente o umbigo ao mundo, sobrevalorizando-o para bem da auto-estima.
O Facebook e o Twitter são ou podem ser, claramente, mais do que isso. É um meio de comunicação totalmente novo com potencialidades brutais. Que de outra maneira se poderia comunicar como 50, 100, 200 ou mil pessoas em simultâneo? É uma forma de estar diferente. Há amigos do Facebook que quando se cruzam na rua fazem de conta que não se conhecem, porque, simplesmente, não têm nada para dizer um aos outro. E há outros que se tornam amigos no Facebook. Enquanto as instituições já se aperceberam da importância que os meios estão a adquirir e investem massivamente. Mas o balanço é positivo. O Facebook e o Twitter aproximam as pessoas, num mundo cada vez mais distante.

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