Se a Feira do Livro de Lisboa não tem um rosto, tem pelo menos uma voz. Aquela que se ouve diariamente nos altifalantes, da abertura ao fecho, de segunda a domingo, do primeiro ao último dia. A informar-nos sobre as iniciativas culturais, as sessões de autógrafos e a interminável lista dos Livros do Dia. A voz off da Feira é uma companhia, mesmo quando não damos por ela.
Paula Cristina Gomes, 36 anos, é uma das três vozes da feira e hoje está de serviço o dia todo. O seu posto de trabalho fica no pavilhão da Associação Portuguesa de Editores e Livreiro, logo à entrada do Parque Eduardo VII. A um canto, em cima de uma secretária destacam-se uma pequena mesa de mistura e um microfone com via aberta sempre que a situação o exige. Os apontamentos estão rasurados, com as alterações de última hora. Com profissionalismo e boa disposição, Paula olha para o relógio, consulta a cábula, coloca a voz e diz: «Lembramos mais uma vez a lista dos Livros do Dia...»
Ser a voz da Feira não é tarefa fácil, mesmo para quem tem experiência de Rádio, como é o seu caso. Licenciada em Comunicação Social, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Paula Cristina Gomes começou na Voz de Almada. Actualmente, assegura os noticiários das manhãs da Radar, depois de Luís Montez ter comprado aquela frequência. «É raro ficar rouca», diz-nos, «mas às vezes sinto a voz cansada». A solução é «parar um pouco» e retomar a locução mais tarde.
Mas não é só o endurance que dificulta a tarefa. Há também um problema de timing. É preciso saber o que dizer, quando dizer e como dizer. «Falar pausadamente» é uma das regras de ouro. Até porque, como explica Paula Cristina Gomes, «são facultadas informações muito precisas e pouco óbvias, como números de pavilhões, nomes de escritores, livros e editoras». Depois, é preciso não misturar os ingredientes. «Uma coisa de cada vez. E tudo no seu tempo», afirma. «Só se fala de sessões de autógrafos quando elas ou estão prestes a começar ou já começaram. E pelo meio não se mistura a lista dos Livros do Dia». De outra forma, em vez de informação, ter-se-ia ruído. E o objectivo não é esse. Pelo contrário: «A ideia é despertar a atenção do público para um Livro que possam querer comprar ou para um autor que esteja no recinto», explica.
De resto, impera o bom senso, que Paula Cristina Gomes adquiriu ao longo dos 10 anos de trabalho que tem no currículo. E foi uma coincidência que a levou a esta missão. Um inesperado convite do responsável pelo som da Feira, José Barata, que era seu colega na Voz de Almada. Antes disso, era uma frequentadora normal. Guardava para a Feira do Livro as principais compras do ano. Perto da abertura, pedia aos pais um «dinheiro extra». O único ‘senão’ era ir carregada, no metro e no barco, com os «sacos cheios», até chegar ao Barreiro, onde mora. Hoje, já conhece os cantos à casa. E tornou-se mais metódica. Sabe o que quer e onde o encontrar. De ano para ano não há assim tantas mudanças e sempre há vantagens em ser a voz da Feira. Acontece-lhe «imensas vezes» ler a lista dos Livros do Dia e pensar: este interessa-me! E sem pressas, pode esperar que determinada obra alcance um desconto do tamanho da sua carteira.
Mas acima de tudo, é o contacto humano que Paula Cristina Gomes mais gosta. E que dá sentido ao seu trabalho. Rever as pessoas de ano para ano, ajudar as funcionárias da APEL no infinito esclarecimento dos visitantes, ouvir as reclamações, reconhecer as pessoas que passeiam quase todos os dias pela Feira, perceber os livros que mais vendem, o poder da televisão e das figuras públicas, ver as brincadeiras das crianças. No fundo, «observar o comportamento humano». Como quem lê um livro.
Paula Cristina Gomes, 36 anos, é uma das três vozes da feira e hoje está de serviço o dia todo. O seu posto de trabalho fica no pavilhão da Associação Portuguesa de Editores e Livreiro, logo à entrada do Parque Eduardo VII. A um canto, em cima de uma secretária destacam-se uma pequena mesa de mistura e um microfone com via aberta sempre que a situação o exige. Os apontamentos estão rasurados, com as alterações de última hora. Com profissionalismo e boa disposição, Paula olha para o relógio, consulta a cábula, coloca a voz e diz: «Lembramos mais uma vez a lista dos Livros do Dia...»
Ser a voz da Feira não é tarefa fácil, mesmo para quem tem experiência de Rádio, como é o seu caso. Licenciada em Comunicação Social, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Paula Cristina Gomes começou na Voz de Almada. Actualmente, assegura os noticiários das manhãs da Radar, depois de Luís Montez ter comprado aquela frequência. «É raro ficar rouca», diz-nos, «mas às vezes sinto a voz cansada». A solução é «parar um pouco» e retomar a locução mais tarde.
Mas não é só o endurance que dificulta a tarefa. Há também um problema de timing. É preciso saber o que dizer, quando dizer e como dizer. «Falar pausadamente» é uma das regras de ouro. Até porque, como explica Paula Cristina Gomes, «são facultadas informações muito precisas e pouco óbvias, como números de pavilhões, nomes de escritores, livros e editoras». Depois, é preciso não misturar os ingredientes. «Uma coisa de cada vez. E tudo no seu tempo», afirma. «Só se fala de sessões de autógrafos quando elas ou estão prestes a começar ou já começaram. E pelo meio não se mistura a lista dos Livros do Dia». De outra forma, em vez de informação, ter-se-ia ruído. E o objectivo não é esse. Pelo contrário: «A ideia é despertar a atenção do público para um Livro que possam querer comprar ou para um autor que esteja no recinto», explica.
De resto, impera o bom senso, que Paula Cristina Gomes adquiriu ao longo dos 10 anos de trabalho que tem no currículo. E foi uma coincidência que a levou a esta missão. Um inesperado convite do responsável pelo som da Feira, José Barata, que era seu colega na Voz de Almada. Antes disso, era uma frequentadora normal. Guardava para a Feira do Livro as principais compras do ano. Perto da abertura, pedia aos pais um «dinheiro extra». O único ‘senão’ era ir carregada, no metro e no barco, com os «sacos cheios», até chegar ao Barreiro, onde mora. Hoje, já conhece os cantos à casa. E tornou-se mais metódica. Sabe o que quer e onde o encontrar. De ano para ano não há assim tantas mudanças e sempre há vantagens em ser a voz da Feira. Acontece-lhe «imensas vezes» ler a lista dos Livros do Dia e pensar: este interessa-me! E sem pressas, pode esperar que determinada obra alcance um desconto do tamanho da sua carteira.
Mas acima de tudo, é o contacto humano que Paula Cristina Gomes mais gosta. E que dá sentido ao seu trabalho. Rever as pessoas de ano para ano, ajudar as funcionárias da APEL no infinito esclarecimento dos visitantes, ouvir as reclamações, reconhecer as pessoas que passeiam quase todos os dias pela Feira, perceber os livros que mais vendem, o poder da televisão e das figuras públicas, ver as brincadeiras das crianças. No fundo, «observar o comportamento humano». Como quem lê um livro.
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