Parece ter sido ontem mas, na realidade, foi há uma eternidade tecnológica e civilizacional. Em meados dos anos 80, a RTP, ainda nos gloriosos tempos do monopólio, decidiu fazer uma experiência com a transmissão de um filme 3D. Para o efeito, comprava-se, com a TV Guia, uns óculos parecidos com os usados na observação de eclipses e ficava-se, muito quentinho no sofá, à espera de quase poder apalpar um monstro de plasticina e a exuberante anatomia da menina que este perseguia. A coisa correu razoavelmente mas as TV's nacionais não mais repetiram a graça, ficando os espectadores com um par de óculos que só serviam quando era preciso alegar insanidade temporária.
Pensava-se, pois, que a 3D estava definitivamente encerrada no cemitério das experiências abandonadas pelos grandes estúdios do cinema. Pertencia a um tempo pré-Internet; pré-queda do muro de Berlim; quando Madonna não cobrava milhões de dólares para cantar Like a Virgin e o nosso pior pesadelo ainda tinha a forma de uma guerra nuclear entre a NATO e o Pacto de Varsóvia. Na semana passada, comprei um bilhete de cinema e voltaram a pôr-me na mão um par de óculos escurecidos, já mais apresentáveis do que os usados há 25 anos. Para ver U2 3D, como se pudesse tocar a mão de Bono Vox. Entre os espectadores, havia os que, como eu, estavam ali como num concerto de uma das suas bandas de sempre e outros, sobretudo os mais novos, que estavam ali pela novidade. A seguir, anuncia-se, outros filmes no mesmo suporte virão. Tal como nos anos 50 (com a televisão), Hollywood procura adaptar-se à revolução tecnológica imposta pela Internet e demonstrar que nenhuma comodidade pode, afinal, superar a magia do grande écran.
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