Campo Santo é o sexto título que a Teorema lança de W. G Sebald, em pouco mais de dois anos. Encerra-se assim a divulgação da obra narrativa deste escritor alemão, que morreu tragicamente, em 2001, vítima de um acidente de carro, ficando apenas a faltar a sua poesia.
Livro póstumo, Campo Santo (226 pp, 17,85 euros) reúne, na primeira parte, os textos que Sebald escreveu sobre a Córsega, após a publicação de Os Anéis de Saturno, projecto que seria abandonado em favor de Austerlitz. Quem leu Os Emigrantes, Os Anéis de Saturno ou Vertigens. Impressões reconhecerá imediatamente o seu estilo, com constantes deambulações físicas e intelectuais. De resto, no texto que dá título ao livro talvez se encontre a melhor definição da prosa de Sebald. Junto à cidade de Piana, no topo de uma encosta, existe um campo sagrado, onde ao correr dos séculos foram sendo enterrados os membros da comunidade, primeiro ordenadamente, mais tarde de uma forma completamente anárquica.
É perante esta imagem que o escritor alemão reflecte sobre a urgência da memória. Neste contexto, o mundo que nos rodeia é um enigma que precisa de ser decifrado, como uma acendalha de informação pronta a atear o fogo da história. Mas para isso, o escritor, enquanto agente da busca colectiva do sentido da existência, tem como obrigação interpretar o que vê, perceber os seus significados escondidos, as suas ligações subterrâneas. «Há muitas formas de escrita», diz Sebald num outro texto deste volume, «mas só na forma literária se pode tentar a reconstituição que vai além do mero relato dos factos e além do saber (p. 211).» O seu método afirma-se «adoptando uma perspectiva histórica concreta, esculpindo pacientemente, juntando coisas aparentemente alheias umas às outras, ao jeito de uma nature morte (p. 207)». É isso que cativa nesta escrita desenvolta, que por vezes é áspera e pouco sedutora, mas que, uma vez interiorizado o seu ritmo, parece uma ladainha cheia de imagens, estados filosóficos e fragmentos de vida.
É perante esta imagem que o escritor alemão reflecte sobre a urgência da memória. Neste contexto, o mundo que nos rodeia é um enigma que precisa de ser decifrado, como uma acendalha de informação pronta a atear o fogo da história. Mas para isso, o escritor, enquanto agente da busca colectiva do sentido da existência, tem como obrigação interpretar o que vê, perceber os seus significados escondidos, as suas ligações subterrâneas. «Há muitas formas de escrita», diz Sebald num outro texto deste volume, «mas só na forma literária se pode tentar a reconstituição que vai além do mero relato dos factos e além do saber (p. 211).» O seu método afirma-se «adoptando uma perspectiva histórica concreta, esculpindo pacientemente, juntando coisas aparentemente alheias umas às outras, ao jeito de uma nature morte (p. 207)». É isso que cativa nesta escrita desenvolta, que por vezes é áspera e pouco sedutora, mas que, uma vez interiorizado o seu ritmo, parece uma ladainha cheia de imagens, estados filosóficos e fragmentos de vida.
Uma antologia de escritos breves compõe a segunda parte de Campo Santo. A temática da «incapacidade do luto» do pós-guerra alemão, que tinha ocupado Sebald no excepcional volume História Natural da Destruição, volta a estar presente em quatro destes textos (dois deles já publicados naquele volume). Os restantes são críticas literárias, sobre Peter Handke, Gunter Grass, Kafka, Nabokov ou Bruce Chatwin, que mostram um leitor atento e perspicaz. O que Sebald sempre foi. Dos livros e do mundo.
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