de Mário Cesariny de Vasconcelos
Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício
Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição
Entre nós e as palavras, surdamente,
as mãos e as paredes de Elsenor
E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmo só amor só solidão desfeita
Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar
terça-feira, 18 de março de 2008
you are welcome to elsinore
Publicada por maria joão martins à(s) 12:23
Etiquetas: Dia Mundial da Poesia
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2 comentários:
Parece-me ser bom comentário a este poema, o seguinte:
Tirar da Boca
arrancar respostas
à força de dedos e mãos e corpo
todo
arrancar palavras
arrancar gestos
arrancar pedaços de vida
soltos ou compactos
inteiros ou com sementes
arrancar grainhas
arrancar sementes
arrancar raízes
e semear frutos
semear ao vento
da minha boca…
Luís Lima
Pois, este é um dos meus poemas favoritos.
Obrigada, obrigada!
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