terça-feira, 18 de março de 2008

O Duplo, de Dostoiévski

Comecei-o ontem e fiquei logo presa. «Eram quase oito da manhã quando o conselheiro titular Iákov Petróvitch Goliádkin acordou do seu longo sono bocejou, se espreguiçou e, finalmente, abriu por completo os olhos. Ainda ficou mais dois minutinhos na cama, como uma pessoa que não tem a certeza absoluta de estar ou não acordada nem de saber se o que se passa à sua volta é a realidade ou a sequela dos desencontrados sonhos da sua noite.» Hoje, às minhas oito da manhã, entre o dormir e o despertar, deixei-me ficar muito mais que os dois minutos de Goliádkin e peguei no livro para começar o dia entre as páginas de O Duplo. É o segundo romance do autor, escrito logo depois de Gente Pobre, com apenas 24 anos. Há um funcionário público que vive obcecado por uma replica de si próprio, que aos poucos lhe vai retirando a identidade, levando-o por caminhos que ainda não desvendei. Mas a toada de revolta contra uma sociedade hipócrita, presente em quase todos os romances de Dostoiévski, e também a raiva contra si mesmo está ali inteira. Também, como sempre, o desejo de afirmação individual e a compaixão pelo outro. O livro está agora pousado na minha mesa-de-cabeceira. Desconfio que não por muito tempo.

0 comentários: