quarta-feira, 5 de março de 2008

Ora tomem, Bordalo

Há pelo menos três razões para ir até ao Campo Grande, em Lisboa, e descobrir Queres Bordalo?, até dia 23, na galeria de exposições temporárias do Museu Rafael Bordalo Pinheiro.
A primeira é naturalmente a própria exposição. São umas sete dezenas de trabalhos de Pedro Proença, as ilustrações que o pintor fez para um livro de Manuel António Pina, justamente intitulado Queres Bordalo?, uma obra encomendada pela Câmara Municipal de Lisboa, que tutela o museu, e que lá poderá ser adquirida.
Os desenhos de Proença e as histórias de Pina retomam o universo de Bordalo Pinheiro, o genial caricaturista e ilustrador da segunda metade do século XIX, que acrescentou ao nosso património cultural e gestual o famoso Zé Povinho, com o seu providencial «Ora toma», verdadeiro ex-libris do brioso espírito de cidadania nacional, sempre com uma resposta se não na ponta da língua pelo menos na convicção do médio. Mas Bordalo criou uma galeria de personagens jocosas que bem mordiam os calcanhares da política, da finança, dos costumes e demais Aquiles do seu tempo. Pedro Proença seguiu-lhes o traço numa série de desenhos, em que a paleta é viva e mordaz. São divertidos «proenças» sobre o signo de Bordalo.
Também Manuel António Pina cria uma série de quatro ficções, identificáveis da sua lavra, mas mergulhando no caldo dos «bordalos». O Pedido de Casamento, O Génio da Garrafa, O Grande Gato e Notícias de Lisboa são narrativas exemplares, que tomam o próprio Bordalo como personagem. Mas os «Pinas» são sempre textos que dispensam qualquer pretexto. Daí que o livro que reúne essas histórias bordalescas seja a mais que justificada segunda razão para uma visita a Queres Bordalo?.
E ora tomem a terceira: vistas as ilustrações, lidas as histórias, é de espreitar o outro lado do edifício, devidamente remodelado há pouco tempo, onde mora a colecção permanente e apreciar um universo único. Porque queremos Bordalo, sempre.

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