Knocked out, não uma, mas muitas vezes. Num dos mais belos diálogos do recente cinema português, o realizador Fernando Lopes (que se interpreta a si próprio em The Lovebirds, de Bruno de Almeida) fala a um boxeur profissional (Nick Sandow) sobre a triste beleza da derrota. O homem que, em 1963, realizou Belarmino (sobre o pugilista português Belarmino Fragoso) compara os «combates» do cinema aos do ringue do boxe, em que o segredo está, não em perseguir freneticamente o sucesso, mas em enfrentar a vida como ela é. Sem medo, mas com a elegância única que há no verdadeiro fair play. Igualmente notável é o diálogo do cineasta com o seu actor de eleição, Rogério Samora (protagonista em O Delfim, Lá Fora e 98 Octanas), em que os dois desvendam aos olhos do espectador a terna cumplicidade, quase de pai e filho, que, na realidade, os une.
Neste filme coral, tecido por seis histórias desigualmente conseguidas, Bruno de Almeida dá-nos ainda a ver Ana Padrão (muito bela e segura) a reagir, primeiro, com medo e, finalmente, com embevecimento à perseguição de amor movida por um estrangeiro (Michael Imperioli) com quem se cruzou no metropolitano. O diálogo possível entre ele e a família, alfacinha de gema, dela, é um episódio tão divertido como eternecedor. O romance que se esboça entre ambos terá um desenlace rápido, melancólico como uma madrugada de Alfama, mas, nem por isso, deixará de ser um happy end.
Bruno de Almeida, aliás, nunca abandona as suas personagens à desesperança. Nas outras histórias (quanto a mim, menos interessantes) encontramos dois «trabalhadores» dos esquemas & biscates (Marcello Urgheghe e Johnny Frey) que, in extremis, conseguem salvar uma amizade; um taxista (Dmitry Bogomolov) que, na mesma noite, vive o inferno e a redenção; um arqueólogo (John Ventimiglia) que só encontra paz no lugar da sua escavação e, finalmente, um piloto de aviação (Joaquim d'Almeida) que experimenta (com Deena De Niro) as agruras do adultério. Um filme ambicioso que merece toda a nossa atenção.
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