Soa a Rádio Macau desde o primeiro acorde. Poderia ser um Amanhã é sempre longe demais. É irresistível este universo marcado, tão etéreo, que nos convida a voar, ou a viajar até à lua. Porque a lua vem a propósito da letra de Pedro Malaquias. Uma canção de um amor maduro, entre a realidade e a ilusão. Um amor realista, sem poderes sobrenaturais, sem hipérboles:
Preferias que te cantasse noutro tom
Que te pintasse o mundo de outra cor
Que te pusesse aos pés um mundo bom
Que te jurasse amor, o eterno amor
Querias que roubasse ao sete-estrelo
A luz que te iluminasse o olhar
Embalar-te nas ondas com desvelo
Levar-te até à lua para dançar
Leia-se, preferias que eu fosse melhor, um deus, um super-herói, o génio da lâmpada, mas eu sou imperfeito cheio de falhas. Ainda assim te digo:
Que a lua está longe e mesmo assim
Dançar podemos sempre se quiseres
Ou então se preferires ficar in
Que ninguém há-de saber o que disseres
quinta-feira, 27 de março de 2008
Cantiga d'Amor, dos Rádio Macau
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1 comentários:
Interessa-me a violência sónica
o descuido com que nos mutila as manhãs
oiço tudo a uma grande distância
o aproximar de ventos de outras planícies que procuram conquistar-me o peito
os cascos batidos de um exército sagaz
a chegada da primavera
Interessa-me a violência sónica
a agressão ao espírito como um fio de água muito fria
um despertar súbito nos dedos mortais
oiço a vibração de qualquer músculo
e mais ao longe o estrondo inominável
do estalar dos maiores glaciares
Consigo – sim - escutar o ruído do esmagar da azeitona
quando ainda está na oliveira – e o levantar do pão dentro do forno
um ruído estrondoso, apocalítico como o arregaçar das mangas para o trabalho
violento, sónico
irrecusável como a voz inquisidora de uma criança
ou a investida de uma fera
deito-me e fascino-me ouvindo o bater do meu próprio coração
ouvindo por dentro o funcionamento da máquina
essa coisa terrível
interessa-me o modo como tudo me invade e atravessa
os marulhos do mar a voz das diferentes cores
o guincho das gaivotas sempre que algo beija o horizonte
os meus passos são um exercício de baga e bronze
há um estridente concerto de cordas quando pressinto o sol nascente
e rapidamente juntam-se percussões
electricidades – oiço perfeitamente o seu fluir insano
o ruído dessas luzes
tudo está amplificado
olho os pomares do sul e ao fechar os olhos
invade-me o murmúrio que injecta o suco nos frutos
essa vida gritante que me canta suavemente
já te disse inúmeras vezes
que os meus filhos me falam muito claro de dentro de ti
trazem-me notícias do futuro
Interessa-me a violência sónica
amo da mesma forma um violino vivo e um desafinado
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