É um filme que apanha em cheio a actual onda da animação. Dia de surf, de Ash Brannon e Chris Buck, tem personagens desajeitadas, outras bizarras, outras meramente divertidas. Não lhe faltam bocas espirituosas, piscadelas de olho, gagues mais ou menos anedóticos. Evidentemente também não está livre dos tradicionais bons e não menos tradicionais maus e da indispensável moral da história, que no caso pode ser dupla: «Não desistas dos teus sonhos, procura o teu caminho» ou simplesmente «Vencer não é o mais importante, o que importa é ter amigos e divertirmo-nos com o que fazemos».
É essa a lição que o Big Z, uma espécie de guru do surf, que deve ter andado a ler uns livrinhos de auto-ajuda, se não mesmo a fazer um curso intensivo, dá ao pequeno Cody, o pinguim, que queria ser um surfista, melhor um campeão na crista de qualquer onda, e em quem ninguém acreditava. Nem mesmo a mãe. Se não tivesse encontrado aquele maître à penser surfista podia ter caído no paleio de algum guru das modernas cartilhas da economia e da gestão e não havia de ser muito diferente a onda.
Do défice de auto-estima, dos diferentes que afinal são iguais, dos feios que finalmente são bonitos, dos incompreendidos, dos rejeitados e marginalizados está o actual universo da animação cheio. E também das melhores intenções, dos intuitos mais politicamente correctos. Um dia de surf não foge à regra. Se à força de tantos bonecos bem intencionados, a Humanidade vai ficar melhor e as crianças vão tornar-se gente mais tolerante e atenta aos outros e ao mundo, só o futuro o dirá. Os contos de fadas, por mais que a psicanálise já tenha concluído da sua função simbólica, com tanta realeza e final feliz, também não consta que tenham adiantado muito. Mas por certo não virá por aí mal ao mundo e sempre lucram os estúdios e não só.
Além disso, há que reconhecer que o pinguim é uma figura simpática, com provas dadas em muitas outras fitas. E em nada ficará a dever em glamour a outros nomeados. Pouco espanta a sua nomeação e não admirava nada que arrecadasse o Óscar. Porque os sentimentos politicamente correctos americanos são uma animação.
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