segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

O regresso dos cafés

Há uma atmosfera única nos grandes cafés das cidades europeias, a que não é alheia a memória de todas as conspirações políticas, sociais e poéticas que neles tiveram lugar. Em Portugal, essa tradição foi sendo delapidada a partir dos anos 70, com a gradual substituição de cafés históricos de Lisboa e Porto por agências bancárias, companhias de seguros e serviços afins (assim se perderam, só na capital, «A Brasileira do Rossio», o café «Martinho» frequentado e louvado por Eça de Queirós, o «Portugal», o «Monte Carlo», o «Gelo»). Pensávamos que era o fim desta História, mas, eis que os hábitos voltam a mudar, e surgem sinais de que as cidades sentem novamente a necessidade de cafés com forte identidade.

Na semana passada, de visita ao Porto, fui surpreendida pela nova vida do Café «Guarany». Situado a meio da Avenida dos Aliados, tem uma movimentada agenda cultural e um ambiente cosmopolita, a que não são alheios os painéis pintados por Graça Morais, o piano, o brilho devolvido aos espelhos e aos lustres. Mais modesto, mas igualmente de saudar, é o regresso do «Café Gelo» ao Rossio. Outrora frequentado por Aquilino Ribeiro e outros fervorosos militantes republicanos (ali teria sido combinado o regicídio, diz-se) e, décadas depois, por Mário Cesariny de Vasconcelos, Luiz Pacheco ou Ernesto Sampaio, o café foi tendo uma morte lenta até ser tristemente transformado numa loja de hamburgueres. Regressou agora, com uma decoração que honra os «pergaminhos de nobreza». De certo modo, Lisboa volta a cheirar aos cafés do Rossio.

1 comentários:

platero disse...

Caf�s e Suplementos liter�rios - foi o mesmo o seu destino: sumiram
Com o advento desta tal de Blogosfera (pelo menos 300kms de espa�o - s� em altura)pensei que estaria de volta a possibilidade de os criadores menores, os segregados da "parvo�ncia", chegarem para al�m dos limites geogr�ficos das suas cada vez mais encolhidas aldeias.

A edi�o/papel do JL - que apesar de tudo compro com regularidade - n�o tem espa�o para diletantes. E voc�s a� Blog, n�o aceitam colabora�o, mesmo que espor�dica, de espont�neos (que � como se chamava nas touradas aos aventureiros que pulavam para a arena)?

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