quarta-feira, 26 de agosto de 2009

O mundo do fim do mundo


Chega-se ao fim do mundo e vira-se à direita. Ali, onde o mar começa e o mar acaba, nos confins da Europa, a caminho da América. O fim do mundo, neste caso, é a Ilha das Flores, com os seus 4000 habitantes, sem contar com vacas, coelhos e hortênsias. Provavelmente, um dos sítios mais belos do planeta, com a sua harmonia selvagem. Dizem que é o ponto mais ocidental da Europa, embora, a rigor, a ilha se situe já na placa tectónica americana. Quando se vira à direita, por assim dizer, apanhando o barco Ariel, vai-se dar ao Corvo. Esse sim, seguramente, um dos pontos mais remotos do mundo. Longe de tudo, menos de si próprio, e da vizinha Flores, com a qual, em tempos que já lá vão, comunicava com sinais de fumo: duas fumaradas quando precisavam de um médico, três quando precisavam de um padre.
O Corvo está agora menos isolado. Há um aeroporto que é quase do tamanho da vila e barcos diários. Ainda assim, quando o Inverno aperta, o mar se balança em fúria e as nuvens descem à terra, não há barco que se desafie à travessia nem avião que arrisque a aterragem.
A ilha tem pouco mais de 400 habitantes, todos vivem na Vila do Corvo. Segundo me foi garantido, não há um único eremita, um aventureiro que seja, que se disponha a viver na montanha. As casas que lá existem servem apenas de apoio à agricultura. A terra é fértil e há uma enorme densidade de vacas. A ilha é curta. Atravessa-se a pé ao longo de um dia. Mas há uma carrinha que percorre a única estrada de alcatrão existente, que nos conduz ao sopé da montanha, onde se pode observar um monumento natural de beleza rara: o caldeirão.
De uma das encostas da montanha, a terra é de privados, do outro é pública, quem quiser cultiva ou leva as vacas a pastar. No Corvo há pleno emprego, só pode haver. A crise ali é outra. Se começarmos a contar as pessoas necessárias para o seu funcionamento prático, logo nos sobram os dedos. Ali há Correios, Polícia, Escola, Junta, Café, Mini Mercado, Igreja, Hotel, Bombeiros…
Também há televisão e rede no telemóvel. O senhor simpático, de bigode farto, que me conduz pela curta estrada da ilha, servindo também de guia turístico das pequenas coisas, leva no auto-rádio da carrinha uma espécie de pen. Explica-me que é um leitor de MP3 e que, naturalmente, serve para ouvir música. O mundo e o fim do mundo tornam-se cada vez mais próximos.

1 comentários:

Gustavo disse...

fimdo fundo
findo mundo...
ab,

Gustavo