sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

La Bohème

Paris está cheia de luzes no fundo do palco a desenhar o recorte da cidade. Imagem forte no escuro iluminado que prende os olhos de quem, da janela da água-furtada de Rudolfo, espreita a primeira cena de La Bohème, de Giacomo Puccini, no Teatro Nacional de São Carlos – récitas dias 14 e 22 (às 16), 16,18 e 20 (às 20). Uma encenação de Peter Konwitschny, que conta com a direcção musical de Julia Jones. Esta La Bohème convence. Sem nenhuma voz se destacar particularmente – embora talvez as de Musetta (Chelsey Schill) e de Rodolfo (Alessandro Liberatore) tenham tido melhores momentos – todos os cantores cumprem bem o seu papel numa encenação feliz. Os dois primeiros quadros contrastam a pobreza do quarto do poeta Rudolfo com a alegria do Quartier Latin, com o Coro do TNSC e o Coro dos Pequenos Cantores da Academia de Amadores de Música em sintonia. Uma diferença substancial ao intervalo com as vozes, agora mais próximas da boca de cena, com uma amplitude maior do que nos dois primeiros onde pareciam um pouco ‘abafadas’.
A neve de um Fevereiro rigoroso inunda o palco nos dois últimos quadros. Outra imagem feliz, na tristeza geral que o frio traz à história. Mimi (Ausrine Stundyte) está gravemente doente, quer abandonar Rudolfo que a atormenta em crises de ciúmes. Rudolfo fá-lo apenas para disfarçar o facto de não conseguir dar-lhe tudo o que ela precisa para vencer a doença. A expressividade do soprano Ausrine Stundyte é fundamental na sequência da morte de Mimi, havendo apenas um senão, em nada relacionado com a qualidade do canto: as luzes do teatro estão quase todas acesas não permitindo ao espectador viver a intensidade do momento. O grito de Rudolfo por Mimi não precisa de luz, enquanto a voz do tenor persistir impregnada de escuridão.
Alessandro Liberatore e Ausrine Stundyte em La Bohème. Foto de ensaio de Alfredo Rocha

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