quarta-feira, 4 de junho de 2008

Três perguntas a José Saramago

Com entrega, boa disposição e ânimo. Durante duas horas e meia, José Saramago deu autógrafos às centenas de fãs que rumaram à Feira do Livro de Lisboa. A esta sessão, marcada em cima da hora, seguir-se-ão outras, na próxima semana, sinal de que o Nobel da Literatura já se encontra bem de saúde, depois de uma pneumonia que o debilitou no início do ano. É o próprio que o confirma nesta entrevista, realizada após o último autógrafo que deu hoje. Nela, o escritor aborda ainda os temas quentes que marcaram a abertura da edição deste ano da Feira do Livro. Talvez recordando o romance que a LeYa escolheu para Livro do Dia, Levantado do Chão, José Saramago lembra a inutilidade das «guerras do alecrim e da manjerona». E deixa um voto.

Esta preseça na Feira do Livro de Lisboa é um sinal de que a sua recuperação está a correr bem?
Sim. Houve um tempo em que tivemos algumas dúvidas se eu podia cá vir. Mas como se vê, estou bem e não me cansei. O que significa que a minha recuperação vai pelo bom caminho.

O que achou da Feira do Livro?
É conhecido que eu comecei por fazer protestos. Achava que, se cada um começasse a fazer aquilo que queria, isto acabava por perder um certo carácter "democrático" que tinha. Fiquei à espera de vir cá ver. Não sei como está o resto, mas a parte da LeYa está bem pensada. Pelo menos, se a LeYa estiver disposta a proteger os autores, na sua vida profissional e no trabalho, como os protegeu aqui, é um grande passo em frente. Dentro destes pavilhões [onde decorreu a sessão de autógrafos] estamos, digamos, abrigados do vento ou da chuva, que ali fora às vezes não se podia suportar. E tem algo de bom que é o facto dos leitores poderem circular dentro dos stands, escolherem os seus livros e pagá-los. Mas em relação à Feira, eu formularia um voto.

Que voto?
Que os editores acabassem com o triste espectáculo que quase todos os anos se dá, desde que se criou a UEP. Não se trata exactamente de saber quem tem razão e quem não a não tem. Até porque nós não sabemos as razões que os levam a opor-se uns aos outros. Eu posso tomar partido pelo Benfica ou pelo Sporting porque, enfim, já os conheço há muito tempo, embora já não sejam os mesmos. Agora, o que quer a UEP e o que quer a APEL? Suponho que querem que os seus sócios e editores publiquem e vendam livros. Não percebo realmente por que razão é esta guerra do alecrim e da manjerona, que se repetem todos os anos. O público deve estar um bocado cansado, sobretudo porque não sabe nada dos motivos. Porque há motivos conhecidos, mas a gente suspeita que há motivos ocultos. Mas enfim, isto acabou bem. E do ponto de vista das alteraçoes, se todas forem tão equilibradas como esta da LeYa, e não estou aqui para fazer festas à LeYa, apenas a reconhecer uma boa solução, é um bom caminho.

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