terça-feira, 17 de junho de 2008

Mariza: a voz de Terra





Terra, assim se chama o novo disco de Mariza. O Blogue do JL conversou com a fadista global

Neste álbum revela uma maior maturidade interpretativa. Acha que está a crescer de disco para disco?
Nos últimos sete anos da minha vida passei por experiências e emoções de grande enriquecimento pessoal. Vivi culturas, ritmos e musicalidades diferentes. E também, de certa forma, acredito que devo ter influenciado os outros como que daqui levei. Neste disco senti que não tenho de provar nada a ninguém. Sou o que sou, faço o que faço. Se sou boa ou má cantora cabe ao público julgar. Neste momento o mais importante é a música. Ao sofrer sete anos de influências, tal acabaria por aparecer nos meus discos. E aparece aqui, nesta viragem, onde fecho um ciclo e tento abrir outro. Ao mesmo tempo, conservando as tradições, o que aprendi na minha infância e adolescência dentro do fado. Não se pode dizer que esteja descaracterizada. A minha forma de cantar continua fadista, a guitarra portuguesa está lá, assim como a percussão, a viola de fado, os meus poetas, letristas e compositores. Contudo há aquela sensação que, com os pés assentes na minha terra, na minha base, nas minhas raízes, eu dou a volta ao mundo. 360 graus, para voltar a dormir aqui.

É um disco particularmente heterogéneo. A própria Amália gostava de alternar o fado com músicas populares, para dar um certo ritmo, e não ficar tudo muito pesado. Também sente a necessidade de provocar diferentes emoções?
Este disco é feito com uma verdade muito pura. Se fizesse um disco diferente não seria meu. Se tivesse de fazer um daqueles discos impostos pelas editoras, confesso que estaria tristíssima e a morrer por dentro. Sou eu que faço pesquisa, procuro os meus poetas, falo com os compositores e letristas, explico o que estou a sentir. Depois dessa busca toda, fiquei com 30 temas. Fiz uma escolha e sobraram 22. Quando cheguei a Madrid, com tudo gravado, o Limón ajudou-me. Expliquei-lhe a sonoridade que tinha na cabeça, mas como não toco instrumento nenhum, às vezes torna-se difícil mostrar onde quero chegar. O Limón lá me foi entendendo. Esta é a reinvenção do meu próprio som. Uma porta nova que se abre…

Mas tem aberto várias portas além desta, como em Transparente...
Sim, mas esse é um disco muito romântico, com aquelas cordas… Em Transparente tinha um conceito, um romance com princípio meio e fim. Neste a ideia é de quem tem os pés na terra. Não sei se sabe o que custa sair daqui e ficar dois meses fora, a dormir todos os dias num hotel diferente, a comer do que não se gosta, mas com um orgulho enorme em representar a língua e a cultura de um país. Foram sete meses de trabalho. Se não tivesse esse tempo, seria impensável fazer o disco. Já não tenho de provar nada a ninguém. Se correr bem, óptimo, senão, paciência.

Mariza fala do novo disco, canção por canção, no JL 984, amanhã nas bancas.

1 comentários:

JBMartins disse...

Mariza, fadista (não gosta de ser chamada assim)de méritos, começa a ser o centro das atenções, a ponto de pouco já se falar noutras (ou noutros) fadistas. e mizia? e mafalda arnauth? até o carlos saura, só a ela a filmou, e com vários fados (porquê? quem o convenceu a isso?)os programas e jornais falam só quase dela, quase parecendo um fernando pessoa do fado. Fernando pessoa porque houve uma altura em que era o unico poeta português, não se falava de camões, de garret, de sá de miranda, de teixeira de pascoaes, de...etc.
jornais, tvs, radios, dêem pf atenção a mafalda, misia, a liana, etc.