sexta-feira, 6 de junho de 2008

Chega de saudade



O primeiro de um milhão de abraços. Em Agosto de 1958, João Gilberto gravou Chega de Saudade (Bim Bom no lado B), e nasceu oficialmente a bossa nova. A expressão bossa foi tirada de uma canção de Noel Rosa, dos anos 30. E este tornou-se o mais importante movimento da música popular brasileira, sem margem para dúvidas. Com muito mais frutos e reconhecimento mundial – mesmo nos nossos dias – do que o tropicalismo de Caetano, Gil, entre outros. É um baptismo de fogo, aqui estão os melhores ingredientes: a música de Tom Jobim, as palavras do ‘poetinha’ Vinicius de Moraes e a voz de João Gilberto. Uma óptima síntese, um som perdido algures entre o jazz e o samba, uma forma entoada de cantar e uma letra de amor de saudades do futuro que embala: «Há menos peixinhos a nadar no mar/ que os beijinhos que eu vou dar na sua boca». É nessa encruzilhada entre a alegria e a tristeza que a bossa nova, tal como o povo brasileiro, se situa. Mais à frente, em Samba da Bênção, Vinicius explicaria:

É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração
Mas pra fazer um samba um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão não se faz um samba, não

Uma questão de doseamento, portanto. Mas para já, no fundador Chega de Saudade, ao contrário do fado, existe um não conformismo com a tristeza, apesar de, na verdade, esta se tornar inevitável:

Vai minha tristeza e diz a ela que sem ela
Não pode ser, diz-lhe numa prece
Que ela regresse, porque eu não posso
Mais sofrer. Chega de saudade a realidade
É que sem ela não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim, não sai de mim, não sai

Mas se ela voltar, se ela voltar,
Que coisa linda, que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei
Na sua boca, dentro dos meus braços
Os abraços hão de ser, milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver sem mim.
Não quero mais esse negócio de você longe de mim...

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