segunda-feira, 26 de maio de 2008

Cabo Verde: passado e presente

Cabo Verde é o país homenageado da 78.ª edição da Feira do Livro de Lisboa, sucedendo a Angola, que há dois anos estreou esta iniciativa da Associação Portuguesa de Editores e Livreiros. «É uma honra muito grande», assegura, ao JL, Joaquim Morais, 55 anos, director do Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro de Cabo Verde (IBNL). «Participámos nas duas últimas feiras, de uma forma mais discreta, partilhando um stand, mas ser o país convidado dá uma dimensão completamente diferente ao nosso trabalho», acrescenta.
E os resultados estão à vista. O pavilhão de Cabo Verde, situado a meio da subida do Parque Eduardo VII, do lado esquerdo, tem estado sempre cheio; e as vendas, até à data, são animadores. Perante a austeridade do espaço, os organizadores imprimiram muita cor e animação, com elementos tradicionais da sua cultura e com uma vasta oferta bibliográfica. Da literatura ao ensaio, da história à linguística, dos fundadores da identidade cabo-verdiana aos novíssimos que fazem a actualidade.
Segundo Joaquim Morais, o convite para ser o país homenageado surgiu na melhor altura. «Estamos a tentar a internacionalização da nossa Literatura, sobretudo junto das comunidades cabo-verdianas da diáspora», diz. À semelhança do que foi feito recentemente nos Estados Unidos, o IBNL preparou um alargado programa cultural para a Feira do Livro de Lisboa. Mesas redondas, recitais de poesia, noites de música e gastronomia e leituras de contos para «situar a literatura no universo mais vasto da cultura cabo-verdiana».
O principal destaque será dado, no entanto, aos escritores que ao longo do tempo deram corpo à identidade política, social e cultural do país. «Desde os primórdios da nacionalidade que temos tido grandes nomes», garante Joaquim Morais. Em traços gerais, numa primeira fase, no século XIX, com Eugénio Tavares, Guilherme Dantas ou Pedro Cardoso, «gente que se sentia cabo-verdiana mas com uma ligação à pátria portuguesa». Depois, o movimento de afirmação nacional, com os Claridosos, liderados pelos três «grandes faróis» Baltazar Lopes, Jorge Barbosa e Manuel Lopes. «É uma literatura que assenta em temáticas cabo-verdianas e na defesa de um outro futuro político para o país».
Nos últimos anos, assistiu-se ao surgimento de uma «nova geração que já não sente uma preocupação com a denúncia, nem com a resistência», defende o também editor. Nas obras de Armando Vieira, Corsino Fortes, Germano de Almeida, o mais conhecido escritor de Cabo Verde, ou José Luís Tavares, entre muitos outros, «prevalecem os temas internacionais e a força da estética».
É este caminho que as mesas redondas, sempre no Auditório, vão percorrer, a partir de hoje. Alberto Carvalho, Armandina Maia e Pires Laranjeira falam sobre a revista Claridade, às 18 e 30, com intervenções dos convidados especiais Aguinaldo Fonseca, Nuno Miranda, Elsa Rodrigues dos Santos, António da Nevada e Joaquim Arena. Amanhã, terça-feira, 27, é a vez dos contemporâneos, às 20, com Elsa Rodrigues dos Santos, Inocência Mata, Ana Mafalda Leite e José Luís Hopffer, acompanhados por Dina Salústio, Corsino Fortes, Germano Almeida, Armenio Vieira, Alice Fernandes, António Neves, Arsénio de Pina, Carlota de Barros, Jorge Araújo, Jorge Carlos Fonseca, José Luís Tavares, Maria M. Mascarenhas, Pedro Duarte, Viriato de Barros e Yolanda Morazo.
No dia 2 de Junho, às 18 e 30, viaja-se até aos Nativistas e Pré-Claridosos Caboverdianos, com Alberto Carvalho, Francisco Manso, José Guimarães, António Torrado e Isabel Barreno. Ainda no âmbito da escrita, no Dia Mundial da Criança, a 1 de Junho, há leituras de contos para todas as idades, em crioulo e em português. Entre as 17 e as 19, na sala de conferências, junto ao espaço infantil.
Ao longo da Feira, a língua também estará em debate. Na ordem do dia está a equiparação do cabo-verdiano e do português, como idiomas oficiais. «Nós defendemos um perfeito bilinguismo», afirma Joaquim Morais. «A língua portuguesa também é nossa historicamente, mas hoje exprimimo-nos tanto numa, como noutra. E o nosso objectivo é um equilíbrio entre as duas». Alice Matos, Hans-P. Heilmair (Lonha), Dulce Pereira e Viriato Barros, assim como Adelaide Lima, Nelia Alexandre, Ana Josefa e José Luis Tavares, são os participantes da mesa redonda dedicada a este tema, dia 28, às 18 e 30. Duas horas mais tarde, o protagonismo vai para as Ciências Sociais e Humanas, com Jorge Carlos Fonseca, João Estêvão, Joaquim Morais e Antonio St’Aubyn, e com a apresentação de algumas edições recentes.
A informalidade ficou reservada para as duas últimas sessões. Um recital de poesia, com a presença de muitos autores de referência de Cabo Verde, dia 30, às 20. E, a terminar, no dia 31, também às 20, «as jóias do país»: música e gastronomia tradicionais. Uma noite cabo-verdiana para ficar gravada na memória e para conquistar mais adeptos para a cultura e a literatura Cabo-verdianas. É esse o desejo do director do IBNL. «Que a nossa Literatura esteja na arena internacional como está a nossa música». Pode demorar tempo. Mas Joaquim Morais está seguro: «Chegaremos lá».

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