quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

O charme discreto do vício


O primeiro apelo «veio» de Nicole Kidman. Vê-la, impecável, agarrada a uma pequena Nintendo DS a exercitar os neurónios, num anúncio cheio de glamour, fez-me pensar que, afinal, uma consola pode não ser assunto só de adolescentes. Pedi ao meu Pai Natal privativo que me trouxesse uma igual, em tons de rosa, linda, com uma caneta acoplada, tão feminina, devidamente munida com um programa de exercícios matemáticos... Desde o Natal, chego a casa e entrego-me com pontualidade quotidiana a esta espécie de ginásio mental, num frenesim insano para reduzir a minha idade cerebral. O meu amor reclama atenção, a gata quer comida, os amigos deixam mensagens no telemóvel, mas ali estou eu, rendida (ou melhor, subjugada) ao charme discreto de um vício que ainda não incomoda as sempre activas ligas da moral e dos bons costumes. Não sei qual é a idade cerebral conquistada pela Nicole, mas, no meu caso, um mês de dedicação está a ser premiado com uma estimulante agilidade na arte de fazer contas de cabeça e de resolver sudokus. Para além do mais, a cada etapa superada, correspondem novas dicas do coach virtual sobre o modo como tirar melhor partido das nossas meninges. Graças a elas, descobri, por exemplo, que a cozinha e o tricot são excelentes formas de desenvolver partes do cérebro que a actividade intelectual habitualmente desconsidera. Algo compungida não pude deixar de concluir que, bem vistas as coisas, a minha mãezinha tinha boas razões para querer transformar-me na fada do lar que nunca consegui ser.

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