Ruínas, de Manuel Mozos
É um filme coral, mesmo que lhe faltem corpos, humanos ou outros. Digo corpos e não presenças, já que, ao longo dos 60 minutos de Ruínas, cruzam-se múltiplos pedaços de vidas: os homens e mulheres a quem a doença atirou para um sanatório, a quem uma ânsia de mar mandou para um hotel costeiro ou a sobrevivência para a dureza de uma mina alentejana. São espaços há muito abandonados, prestes a diluirem-se na terra, mas, de algum modo, ainda assombrados pela carga de esperança ou de dor de que foram investidos. Ouvimos o vento em ombreiras que tiveram portas e janelas e, ressuscitadas pelo realizador, essas vozes vindas de um passado nem sempre distante.
Com uma carreira de mais de 20 anos, dividida entre montagem, realização e argumento, Manuel Mozos, 45 anos, é autor de longasmetragens de ficção como Um Passo, Outro Passo e Depois (1989); Xavier (1992), Quando Troveja (1999) e 4 Copas (2008), mas também assinou documentários como José Cardodo Pires -Diário de Bordo (1989). A sua habitual discrição não o tem impedido, porém, de intervir como actor em filmes de outros realizadores, nomeadamente em O Capacete Dourado, de Jorge Cramez, Veneno Cura, de Raquel Freire, e Coitado do Jorge, de Jorge Silva Melo. No Indie, apresentou outro documentário: Aldina Duarte: Princesa Prometida.
Jornal de Letras: Como lhe surgiu a ideia para Ruínas?
Manuel Mozos: Foi surgindo quer de notas que tomo em viagem, quer de locais que, de algum modo, já conhecia. Há algum tempo este projecto começou a tomar forma, embora inicialmente tenha parecido (nomeadamente aos produtores) uma coisa um bocado caótica.
Partiu dos locais ou das histórias a eles associadas?
Parti dos locais, embora inicialmente tivesse uma listagem muito mais extensa (qualquer coisa como cerca de 200 espaços!) Só a partir dessa escolha, fui fazer a investigação das histórias daquelas ruínas. Mas nem sempre os textos correspondem historicamente aos espaços evocados. Nestes casos, o propósito foi fazer colagens com sentido.
O som (e não só a voz humana) assume aqui um papel muito forte. É deliberado?
Sem dúvida. Procurámos um som sem grandes efeitos, com alguns elementos captados em directo. Foi o que fizemos nos moínhos do Barreiro filmados com o anúncio sonoro da estação de caminhosde-ferro. Captámo-lo durante as filmagens e pareceu-nos que devia ser mantido ali.
Recorda-se de frequentar algumas destas ruínas?
Algumas delas não são exactamente ruínas, mas, sim, espaços que foram desviados da sua função original: lembro a praia da Cova do Vapor, Fonte da Telha, o navio bacalhoeiro transformado em museu.
Nestas situações, interessou-me o anacronismo da sua sobrevivência.
Mas não quero impor um padrão de leitura do filme: gostaria muito que cada espectador o interpretasse à sua maneira.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
Prémio Longa Metragem Portuguesa no Indie Lisboa
Publicada por maria joão martins à(s) 19:00
Etiquetas: Indie 2009
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