quinta-feira, 12 de março de 2009

Não vi, mas gostei




«Não vi, mas não gostei», a frase pode soar de uma ignomínia inaceitável, mas talvez não seja assim tão disparatada. Quantos são os filmes que basta olhar para o trailer para perceber de que se trata? Quem não gostar de filmes de espionagem, vê a apresentação do último 007 e já sabe que o filme não se adequa ao seu gosto.
Este «não vi» não é literal. Porque outras informações foram vistas ou recolhidas para chegar a este pré-conceito: o género em que o filme se enquadra, as outras obras do autor, uma crítica, o argumento, ou o trailer.
O trailer, por si só, é uma refinada arte, de enorme importância comercial. Deve ser um espelho da obra e, ao mesmo tempo, aguçar a curiosidade do espectador. Se o trailer não resulta, perde-se o isco e o mais provável é que o espectador não goste sem ver.
É por isso que grandes realizadores e os grandes estúdios recorrem aos mais experientes técnicos para a sua realização. Sendo que os trailers são sobretudo obras do engenho dos montadores. Há uma síntese de minuto e meio, a perícia que tudo exige. Dali sai o pré-juízo do espectador que, eventualmente, assim decide se vai ou não ver o filme.
Os trailers são construídos para serem vistos antes dos filmes mas, como é óbvio, são feitos depois. Tornando-se subservientes à obra maior. No díptico À prova de Morte / Planeta Terror, de Quentin Tarantino e Robert Rodríguez, uma homenagem a Grindhouse, para o intervalo entre os dois filmes, os realizadores propuseram trailers para filmes inexistentes.
É precisamente isso que trata o Teaserland, o primeiro Festival Internacional de Trailers Falsos, que decorre em Espanha, mas cujas obras a concurso (as 20 finalistas) podem ser vistas on-line. Nenhum destes filmes existe. O desafio é tornar o trailer tão apelativo que se imponha a realização do filme. Ou tratar-se-á possivelmente da assumpção do trailer enquanto subgénero cinematográfico. A maioria dos concorrentes optaram por filmes de terror, onde é mais fácil, num curto espaço de tempo, provocar sensações fortes.
O festival está a ser um enorme sucesso. Houve mais que mil inscrições e o site já recebeu 500 mil visitas. Por exigência do público, os trailers vão ser exibidos em salas de Madrid e Barcelona. Não é para menos. Alguns são muito apelativos. Com uma feliz conjugação de elementos, onde o ritmo de montagem, os intertítulos e a combinação com a banda sonora são essenciais. É caso para dizer: «Não vi, mas gostei imenso».Que inventem um prémio literário paras as melhores badanas.

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