quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Na primeira fila


«Só temos bilhetes para a primeira fila ou para a última da primeira plateia». Escolhi os lugares da frente. Na altura, final do ano de 2007, encostada ao balcão da bilheteira, mal sabia que aquele seria o melhor concerto a que assisti até hoje.
Eu conhecia pouco do Rufus Wainwright. Estava em Constância, terra de Camões, quando uma amiga me estendeu um auscultador e disse «ouve lá isto». Era o último álbum, Release the Stars, e a atracção foi imediata. Depois, fui à procura dos discos anteriores e o meu interesse foi crescendo. Quanto mais conhecia, mais gostava.
Mas, nestas coisas das paixões, há sempre aquele momento, que a crónica distracção humana por vezes nem consegue identificar, em que a química acontece, os planetas se alinham e saltam faíscas por toda a parte.
Na noite do concerto, num chuvoso 6 de Novembro, fui para o Coliseu, toda bem vestida e com o friozinho na barriga típico do prazer antecipado. Sentámo-nos então na primeira fila, tão perto do palco que podíamos ouvir os instrumentos antes de chegarem às colunas. Finalmente, Rufus surgiu, in all his glory, fato às riscas vermelhas e alfinetes com lantejoulas. As minhas pupilas muito dilatadas absorviam cada pedacinho dos olhos azuis e do corpo magro. E então ele começou a cantar… Planetas alinhados, o coração bate com toda a força. Rufus tem uma voz grandiosa, como a sua música, com a influência da ópera a ecoar em todos os cantos da sala. Paradoxalmente, a sua postura é efeminada e trapalhona. Consegue pôr o público às gargalhadas, principalmente quando não tem essa intenção. No Coliseu, Rufus esbanjou charme. Falou do seu amor por Lisboa, de como adorava o Museu dos Coches («I’m such a princess!», disse), tocou ao piano a cantiga do bandido. E, sabe-se lá porque carga de água, acreditamos sempre.
Seguiu todas as regras de um bom primeiro encontro. Depois de fazer rir, sensibilizou-me com as suas canções mais melancólicas, sozinho ao piano ou em dueto com a mãe, e causou um arrepio do fundo das costas até à nuca com uma canção tradicional irlandesa cantada a capella. E eu, na minha abençoada primeira fila, olhava fascinada com um sorriso tolo nos lábios. Durante quase três horas, estive perdidamente apaixonada.

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