terça-feira, 29 de julho de 2008

A Rapariga que Roubava Livros

Na Rua Himmel, a vida decorre normalmente: os seus habitantes trabalham para comer (quase sempre pouco), ajudam-se, maldizem-se, juntam-se para ver passar os judeus famintos, escondem-se dos bombardeamentos. Em A Rapariga que Roubava Livros, lê-se a vida normal de alemães normais na altura da Segunda Guerra Mundial. Mas, neste livro (publicado pela Presença), conta-se também a história de uma menina fora do comum. Vivia para roubar livros, numa época em que estes eram tão preciosos que podiam custar a vida na prisão. Claro que a nada disto é alheio o facto de o autor, o australiano Markus Zusak, ter crescido a ouvir as memórias dos pais austríacos. Mas não se deixem enganar pelo tema sempre tenebroso da guerra. Esta é uma daquelas histórias completas, que provoca ternura, risos e, sim, também horror, tristeza e indignação. Zusak consegue a difícil proeza de dar uma grande profundidade às suas cativantes personagens: Liesel, a rapariga que roubava livros, o seu amigo Rudy, Hans, o pintor acordeonista, a mãe Rosa e Max, o pugilista judeu. O narrador não podia ser mais omnipresente e omnisciente - a Morte, cansada do seu trabalho, sobrecarregado nesses anos, observa a vida de Liesel, com um olhar bem mais doce do que o que lhe atribuímos. Esta é uma Morte que vê primeiro cores e, só depois, as almas que tem de carregar. Mas atenção! Markus Zusak não quer falar sobre o poder da Morte. Este é um livro sobre o poder das palavras.

1 comentários:

Ezul disse...

Um livro extraordinário, sem dúvida. Um dos aspectos que considero bastante interessante, é a ascendência do autor.Depois da leitura da Sétima Porta, de Zimler, gostei de ler esse período também à luz de uma possivel memória alemã/austríaca.
Ezul