Talvez aqui o ditado não se aplique. Não por falta de justeza ou de sabedoria popular. Apenas porque a escala é outra. Se quem conta um conto acrescenta um ponto, o que dizer de um microconto? Se a brevidade é a sua palavra-chave, acrescentar-lhe o que quer que seja é escrever um novo microconto. Pequeno, pequeníssimo, é certo, mas outro microconto. Não uma versão, como diz o ditado.
De qualquer das formas, o microconto é um género em expansão. Encontramo-lo nas ruas – às vezes sem palavras –, nas entrelinhas dos jornais e mais abundantemente na Internet. A tendência para o microconto é tão antiga quanto a Humanidade. E acompanha o desejo de fixar instantes e fragmentos da realidade que sintetizem a nossa existência. E à síntese junta-se a intensidade. Como se fosse possível dizer muitas coisas dizendo pouco. O ideal de toda a comunicação.
Chegam agora às livrarias portuguesas, pela mão da renovada Angelus Novus, dois sacerdotes do género, depois de, na última edição das Correntes d’Escritas, ter sido lançada a Primeira antologia de microficção portuguesa, pela Exodus. Falamos de Augusto Monterroso (1921-2003), escritor guatemalteco, praticante convicto do micro-conto. A ovelha negra e outras fábulas (118 pp, 9 euros) é um bestiário pessoal, escrito após uma cuidada observação da fauna do jardim zoológico da Cidade do México. E falamos ainda de Rui Manuel Amaral (n. 1973), que anima o blog Dias Felizes, laboratório de ensaio para esta sua Caravana (170 pp, 12, 30 euros).
A ironia é um traço comum aos dois autores, ainda que o primeiro a explore através do humor, do sarcasmo e da paródia, enquanto o segundo opte sempre pelos caminhos do absurdo. Monterroso deixa implícito a contradição da espécie humana, retratada através dos animais que com ela se assemelham. Amaral, por seu turno, mostra-nos impossibilidade de compreensão da ‘moral da história’, sobretudo devido ao seu narrador, que muitas vezes abandona as personagens à sua sorte. Ambos, no entanto, dominam a arte de bem contar em poucas palavras, sendo que os escassos recursos não impendem a boa caracterização dos ambientes e das situações.
Depois de lidas, estas obras impõem uma redefinição do ditado: «Quem lê um microconto, escreve logo outro a seguir». As páginas finais destes livros, deixadas propositadamente em branco, com limite máximo de linhas e tudo, para não se entusiasmar, sugerem isso mesmo.
De qualquer das formas, o microconto é um género em expansão. Encontramo-lo nas ruas – às vezes sem palavras –, nas entrelinhas dos jornais e mais abundantemente na Internet. A tendência para o microconto é tão antiga quanto a Humanidade. E acompanha o desejo de fixar instantes e fragmentos da realidade que sintetizem a nossa existência. E à síntese junta-se a intensidade. Como se fosse possível dizer muitas coisas dizendo pouco. O ideal de toda a comunicação.
Chegam agora às livrarias portuguesas, pela mão da renovada Angelus Novus, dois sacerdotes do género, depois de, na última edição das Correntes d’Escritas, ter sido lançada a Primeira antologia de microficção portuguesa, pela Exodus. Falamos de Augusto Monterroso (1921-2003), escritor guatemalteco, praticante convicto do micro-conto. A ovelha negra e outras fábulas (118 pp, 9 euros) é um bestiário pessoal, escrito após uma cuidada observação da fauna do jardim zoológico da Cidade do México. E falamos ainda de Rui Manuel Amaral (n. 1973), que anima o blog Dias Felizes, laboratório de ensaio para esta sua Caravana (170 pp, 12, 30 euros).
A ironia é um traço comum aos dois autores, ainda que o primeiro a explore através do humor, do sarcasmo e da paródia, enquanto o segundo opte sempre pelos caminhos do absurdo. Monterroso deixa implícito a contradição da espécie humana, retratada através dos animais que com ela se assemelham. Amaral, por seu turno, mostra-nos impossibilidade de compreensão da ‘moral da história’, sobretudo devido ao seu narrador, que muitas vezes abandona as personagens à sua sorte. Ambos, no entanto, dominam a arte de bem contar em poucas palavras, sendo que os escassos recursos não impendem a boa caracterização dos ambientes e das situações.
Depois de lidas, estas obras impõem uma redefinição do ditado: «Quem lê um microconto, escreve logo outro a seguir». As páginas finais destes livros, deixadas propositadamente em branco, com limite máximo de linhas e tudo, para não se entusiasmar, sugerem isso mesmo.
1 comentários:
não gosto de microcontos. não dá para saborear.
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