A história de Ratatui, de Brad Bird é simples. Remy, um ratinho que vive na campagne francesa, sonha em ser cozinheiro. Com um olfacto apuradíssimo o pai, chefe da colónia, decide transformá-lo no ‘provador oficial’ para detectar veneno nos diversos alimentos que, aqui e ali, os ratos vão roubando. Remy está infeliz. E vinga-se na leitura das receitas do seu mestre Auguste Gusteau que afirma tacitamente que «qualquer um pode cozinhar». Numa sequência cheia de acção pelos canais de esgotos, nos quais Remy quase morre afogado, perde-se da família e desemboca em Paris. Triste, procura consolo nas páginas do livro e eis que lhe salta o fantasma do recém-falecido Gusteau, que qual grilo falante de Pinóquio – mas sem a vozinha algo irritante –, o faz levantar-se e ir atrás do sonho. Remy vê-se à porta do restaurante de Gusteau e decide entrar. Aí conhece Linguini, um rapaz desastrado que só quer ser bem sucedido no primeiro dia de trabalho. Rato e rapaz formam então uma estranha parceria na qual o rato é o chef e o rapaz uma marioneta bem mandada, que cozinha com Remy a comandá-lo de dentro do chapéu alto.
A animação é fantástica. Tal como a Pixar nos habitou em filmes como Carros ou À procura de Nemo, há em Ratatui planos perfeitos, com destaque para os que sobrevoam as ruas de Paris que quase fazem acreditar na realidade desta ficção animada. As personagens são melhor e pior conseguidas, a única mulher cozinheira, Colette (que na versão original tem a voz de Jeneane Garofalo) é das mais interessantes. As outras, excepção feita para Remy por quem torcemos do princípio ao fim, caem muitas vezes em estereótipos. O crítico Anton Ego, rábula aos críticos franceses, é a imagem de alguém que já não existe. Talvez nunca tenha existido. Mas há sempre que lembrar que se trata de um filme para crianças – apesar de cada vez mais as salas de cinema (sobretudo as da versão original) terem sobretudo adultos – e para elas quanto mais risível for uma personagem, melhor. As crianças riem a bandeiras despregadas dos tiques de Ego. Mas uma das melhores cenas de Ratatui passa-se exactamente com esta personagem. Quando prova o prato que dá nome ao filme há um flashback mostrando Anton em pequenino, na cozinha da casa da sua infância, a consolar-se com um prato de ratatouille preparado pela mãe. Nesse segundo há um reencontro com o tempo perdido que altera o rumo da história. Sem ser uma delícia, Ratatui é um prato bem servido, preparado em lume brando.
terça-feira, 12 de fevereiro de 2008
Ratatui - Em lume brando
Publicada por Francisca Cunha Rêgo à(s) 18:45
Etiquetas: Cinema, Óscares 2007
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