terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O talento de Viggo




Alguns – poucos – têm o poder de nos cortar a respiração, passe o cliché, pelo brilhantismo do seu desempenho. Viggo Mortensen é um deles e está, este ano, nomeado para o Óscar de Melhor Actor pelo seu papel em Promessas Perigosas, de David Cronenberg. A nomeação é mais que justa. Se a estatueta não está garantida, tal deve-se apenas à excelência dos seus concorrentes.
Já o tínhamos visto, e já nos tínhamos maravilhado com o seu trabalho, em Uma História de Violência (2005), também do cineasta canadiano. A proeza – a de nos maravilhar, algo cada vez mais difícil – foi repetida este ano. Em Promessas Perigosas, Mortensen dá corpo a um motorista da máfia russa, Nikolai Luzhin. E nós acreditamos nele. Não vemos Mortensen, não vemos qualquer resquício de personagens passadas. Se, por momentos, julgamos conhecê-lo, será apenas pelas semelhanças com Putin. Mortensen mergulha no personagem, com uma linguagem corporal cuidada e com um sotaque aparentemente perfeito.
Mas é mais, muito mais. Sabemos que estamos perante um actor maior numa cena de balneário, onde ocorre uma luta de facas, crua, e extremamente violenta, na qual somos transportados para dentro dessa mesma violência, para a sua intimidade. Durante quatro minutos conhecemo-la de perto, está nua perante nós, como nu está Mortensen. E, se o está, a responsabilidade é inteiramente sua. Cronenberg queria uma cena realista e física, para que o público pudesse ver e sentir de perto a natureza da violência. Ao que consta, Mortensen terá respondido: «Bom, então é óbvio. Terei que actuar nu.» É também óbvio para nós que vimos o filme. A violência está ali, graças a essa nudez, a olhar o espectador de frente. Também Viggo nos olha de frente. E perdemo-nos nesse olhar, numa admiração enorme pela actuação perfeita.

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