Há concertos de música clássica que valem pelos compositores. Desenharam pautas tão perfeitas que é preciso muito – uma interpretação péssima, a roçar a desafinação, cheia de desatenções – para que o público não possa viver o momento com toda a intensidade. Mas um bom intérprete consegue sempre mais. Leva as notas à clareza, à beleza absoluta, faz-nos acreditar. A música é a sua casa e convida-nos a entrar nesse reino de magia tocando em todos os momentos a corda do coração de quem o ouve. No último sábado, na Gulbenkian, houve muitos corações que se deixaram levar pela emoção. Foram dois os responsáveis pelo feito: o pianista Artur Pizarro e a maestrina Joana Carneiro. As peças ajudavam: Concerto para piano, nº 4, em Sol Maior, op 58, de Beethoven e a versão integral do bailado O Pássaro de Fogo, de Stravinsky. A Orquestra Gulbenkian, como sempre, tocou magistralmente, mas os dois músicos ultrapassaram-se, sobretudo pela cumplicidade que trouxeram para o palco, em cada olhar trocado antes de uma entrada do pianista na peça de Beethoven. Nenhuma em falso. Todas com o mesmo sorriso que se foi multiplicando pela sala. Uma substituição feita à última hora (o concerto seria tocado por Sequeira Costa que por motivo de doença não o pode fazer) que trouxe outra energia à música. E energia é a palavra-chave para contar a segunda parte do espectáculo. Joana Carneiro, 30 anos, imprimiu uma rapidez fluida ao concerto e também ela foi pássaro de fogo. Partia para o voo em cada compasso passando à orquestra (e ao público) uma força que parecia inesgotável. O estrado de onde dirigia soltava pó com cada pulo, às vezes mesmo salto, quando o seu corpo pequeno tinha que ‘comandar’ as harpas, lá ao fundo, à esquerda. E nos momentos de ‘acalmia’ a sua precisão foi perfeita – mesmo para os músicos que tocavam de um dos camarotes do Grande Auditório. O bailado não foi dançado em palco, mas no fim, o cansaço de Joana Carneiro, o brilho nos olhos, o rosto encarnado, eram típicos de uma prima ballerina.
segunda-feira, 7 de janeiro de 2008
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2 comentários:
Convido-vos a visitarem o blog
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onde a escrita será sempre o ar que se respira
Estive, nesse Sábado no Grande Auditório, e concordo com tudo que escreveu.
Joana Carneiro fez-nos acreditar e plantou sorrisos em muitos rostos, sendo um deles, muito, muito, muito especial.
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