«O médico Lenz sabia bem da importância de se mostrar surpreendido no momento único em que se diz ao paciente: você tem uma doença, mesmo que, para ele, enquanto médico, aquela não fosse uma frase minimamente determinante para a existência mas uma mera repetição, uma frase habitual; frase que em nada alterava a sua, digamos, economia sentimental.» Frase que sublinhei das múltiplas frases que contam a história de Aprender a Rezar na Era da Técnica – Posição no mundo de Lenz Buchmann, o último romance de Gonçalo M. Tavares que termina a tetralogia O Reino, publicada pela Caminho. Lenz é um homem detestável, filho de outro homem detestável – Frederich Buchmann – militar de carreira, cheio de certezas sobre todas as coisas. Logo nas primeiras páginas percebemos que a relação entre os dois é forte, íntima, indestrutível. Infinitamente superior à relação que Frederich mantém com o filho mais velho Albert. Um espírito que ambos consideram fraco e indigno do nome Buchmann.
Em Lenz há a mão certeira do cirurgião que corta a doença, limpa a morte, mas não tem nesse gesto um rasgo maior do que o de ser eficiente. A gratidão dos pacientes irrita-o, enoja-o. As suas acções regem-se por outros princípios e a sua ambição vai levá-lo à política. Uma mão já não salva um indivíduo. Uma mão pode comandar muitos.
Força, Doença, Morte, as três partes do romance escondem traços de um homem que sabemos que existe, mas que preferimos apenas conhecer nas páginas vibrantes de Gonçalo M. Tavares.
Em Lenz há a mão certeira do cirurgião que corta a doença, limpa a morte, mas não tem nesse gesto um rasgo maior do que o de ser eficiente. A gratidão dos pacientes irrita-o, enoja-o. As suas acções regem-se por outros princípios e a sua ambição vai levá-lo à política. Uma mão já não salva um indivíduo. Uma mão pode comandar muitos.
Força, Doença, Morte, as três partes do romance escondem traços de um homem que sabemos que existe, mas que preferimos apenas conhecer nas páginas vibrantes de Gonçalo M. Tavares.
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