quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Arranja-me um emprego

A canção já é antiga, mas foi agora recuperada no novo disco de Sérgio Godinho, Nove e Meia no Maria Matos. E com toda a pertinência. Como o próprio diz: «É um grito recorrente em Portugal». Arranja-me um emprego. A canção é construída com a sua hábil ironia. O tom alegre e ritmado da música, contrasta com o que se diz. É proposta uma troca: «Tu precisas tanto de amor e de sossego/ Eu preciso dum emprego/ Se mo arranjares eu dou-te o que é preciso/ Por exemplo o Paraíso». Mas tudo é dramático, a situação do sujeito, que está disposto a tudo, que se sujeita a tudo, em troca de um trabalho: «Se meto os pés para dentro, a partir de agora/ Eu meto-os para fora/ Se dizia o que penso, eu posso estar atento/ E pensar para dentro». E mais: «Se eu mandasse neles, os teus trabalhadores/ Seriam uns amores/ Greves era só das seis e meia às sete/ Em frente ao cacetete/ Primeiro de Maio só de quinze em quinze anos/ Feriado em Abril só no dia dos enganos/ Reivindicações quanto baste mas non tropo/ - Anda beber mais um copo». Pura música intervenção, perfeitamente actual, numa democracia que tantas vezes é tirana.

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