Um salto para o abismo, com a segurança do elástico que nos prende e nos puxa novamente para cima. Mas as sociedades são suficientemente acidentadas para podermos cair num precipício sem rede, nem corda, nem tempo para nos agarramos às paredes. O desemprego está a crescer, mais vale não brincar aos pobres. E nos Estados Unidos, terra de oportunidades onde se ‘cai na rua’ com uma facilidade incrível, vários blogues mostram que qualquer um pode ser um sem-abrigo.
O bungee jumping social tem como factor positivo, pelo menos, o interesse pelo Outro. Mesmo que seja uma curiosidade mórbida, para os dias que correm, não está mal. Há quem resolva o seu mal-estar com esse mundo de forma menos obscena. No documentário de Rui Simões, Ruas da Amargura, que agora se estreia em sala, encontramos algumas dessas personagens que habitam o submundo de Lisboa. E, lado a lado, uma série de voluntários que dedicam o seu tempo a ajudá-las. Sem fazer turismo.
Se a ideia é apenas conhecer melhor os jardins da cidade, mais vale fazê-lo de forma abrigada, como o eco-resort alternativo, de um só quarto, montado no Jardim da Estrela (ver www.dass.pt). Quanto ao resto, já se sabe: a rua não é sítio onde se more e é uma vergonha social não conseguirmos dar a volta a isso.
2 comentários:
Um exemplo típico de que o capitalismo puro consegue ser um excelente reciclador e aproveitar tudo e todos para maximizar lucros. É quase o cúmulo da eficiência, aproveitar os aspectos mais negativos deste modelo social e económico para se conseguir mais e mais proveitos, mas para não variar os beneficiários são sempre os mesmos, aqueles que seguem as regrar do capital, que o têm e tendo-o mais e mais conseguem amealhar num ciclo inquebrável. Sim à liberdade de ganhar o nosso próprio dinheiro, mas com ética.
É bem verdade que há em tudo isso uma ponta de perversidade, «capitalismo puro», como diz, e bem, o Micael, porém, trata-se tudo (na minha perspectiva) de um jogo, daí eu discordar de que haja um ciclo inquebrável, perpétuo... socorro-me da letra de uma canção que diz «às vezes, as coisas mudam de lugar e quem perdeu pode ganhar...», para expor a minha convicção de que, ainda que seja improvável erradicar uma classe oprimida (por força da bipolarização que sustenta o universo, e não só!), é possível ver o oprimido de hoje transformar-se no opressor de amanhã, se calhar com uma bagagem ética maior e ou melhor (por vir de "baixo"), o que pode ajudar...
Enviar um comentário